"O bom combate é aquele que você trava com o coração cheio de paz."
"Só os solitários conhecem a alegria da amizade. Outros têm suas famílias, mas só para um solitário e um exilado os amigos são tudo."
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ReabilitaçãoFábio Assunção gasta cerca de R$ 20 mil por mês para se tratar; saiba como é a rotina dele
Fábio Assunção gasta cerca de R$ 20 mil por mês para se tratar, diz jornal
Depois de abandonar a novela “Negócio da China”, da Rede Globo, para se tratar do vício das drogas, Fábio Assunção se internou na clínica Greenwood, em Itapecerica, São Paulo. O ator, que a princípio seria tratado no exterior, optou por ficar no Brasil para poder ver o filho João. Mas, mesmo aqui, o custo do tratamento é alto. Segundo a coluna “Retratos da Vida” do jornal Extra, o ator precisa desembolsar cerca de R$ 20 mil por mês.
Engana-se quem pensa que Fábio tem muitas regalias no local. O ator consegue apenas ver o filho com frequência, fora da clínica e em um local sigiloso - praticamente o único contato dele com o mundo exterior.
Ainda de acordo com o jornal, Fábio tem seguido uma rotina rígida proposta pela clínica de reabilitação: depois de tomar café às 7h da manhã, passa boa parte do dia conversando com psicólogos.
Por enquanto, o ator não está sequer participando de atividades com os demais pacientes. O jornal afirma que até mimos como flores só podem ser entregues em datas especiais - e se enviados pela família.
Leia também: Fábio Assunção deixa “Negócio da China” para cuidar da saúde; Thiago Lacerda entra
Roubos, Correntes, Bugs, Canis, Microondas,
os 100 primeiros, etc etc etc e etc
Eu conheci o vizinho de um sujeito, que era um rapaz jovem, que estava
em casa se recuperando, após ter encontrado um rato num refrigerante
servido no McDonald's.
Quando acordou no dia seguinte, ele estava na sua banheira, cheia de gelo,
e sentia dores por todo o
corpo. Saindo da banheira,
percebeu que os seus rins tinham sido roubados!...
Ele viu uma frase escrita no espelho do banheiro, que dizia "Disque 190
urgente!". Mas ele estava com medo de usar o telefone, porque estava
conectado ao computador, e havia um vírus que poderia destruir seu disco
rígido se ele abrisse um e-mail com o título "Good Times."
Ele sabia que não se tratava de uma brincadeira, pois ele mesmo era um
programador de computadores que estava trabalhando num software
para nos salvar do Armagedon quando o ano 2000 chegasse.
Este programa iria evitar um
desastre global no qual todos os computadores do mundo iriam distribuir,
em conjunto, a mensagem com a receita do biscoito de 600 dólares Neiman
Marcus, sob o comando de Bill Gates.
(É verdade - eu li tudo semana passada em um e-mail que o próprio Bill
Gates me enviou, e ele também me prometeu uma viagem grátis à Disneyworld,
um tênis novo da Nike e mais U$5,000 se eu
remetesse aquele e-mail a todo
mundo que eu conheço).
O pobre homem tentou discar 190 de um telefone público, para se queixar
da perda dos rins, mas, ao enfiar o dedo na abertura das fichas, ele foi
espetado por uma agulha infectada pelo vírus HIV, embrulhada num bilhete
que dizia: "Bem-vindo ao mundo da AIDS."
Felizmente, ele morava perto daquele hospital onde aquele menininho está
morrendo de câncer e cujo último desejo é que todo mundo envie um e-mail
da Sociedade Americana do Câncer, que vai ser remunerada
em um dólar da IBM e
da ONU para cada e-mail que receber. Eu mesmo lhe enviei dois e-mails e
um deles era um totem muito feio todo feito de risquinhos (pois se você o
receber e passar para vinte pessoas, você terá sorte, mas se passar
adiante para menos de dez pessoas, você poderá ter azar por sete anos...)
Então, o pobre jovem foi dirigindo como podia até o hospital, mas no
caminho percebeu que havia outro carro dirigindo
com as luzes acesas durante o dia.
Para alertá-lo, ele piscou as luzes do carro, e acabou sendo atingido
por tiros de traficantes, que estavam participando de um ritual de iniciação.
Observação de Nostradamus
Um rapaz chamado Manuel Silveira
enviou esta mensagem para todos os seus amigos,
em 24 horas, e se casou com a garota de
seus sonhos duas semanas depois.
Mas Ana Beatriz Marcondes esqueceu de repassar a mensagem e viu sua vida
desabar com a morte de 18 parentes, inclusive seu marido e seus quatro
filhos, que morreram de sarampo. Um dia ela checou seu e-mail de novo,
para repassar a mensagem a todo mundo, e ganhou na loteria no dia seguinte.
E ainda tem gente que acredita!!!
***
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Crime - Final de semana com 12 homicídios
Goiânia teve o maior número de homicídios já registrados em um fim de semana desde sua fundação. A informação é da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (Deih), que constatou 12 mortes violentas na Capital desde a madrugada de sábado, 20, até a noite de ontem. Motivações como acerto de contas, vingança, tráfico de drogas e alcoolismo foram responsáveis por quadruplicar a média de ocorrências entre os dois dias.
A última morte informada pela polícia foi a do diretor do presídio de Trindade, Sérgio Alves Santos, que levou dois tiros no tórax ao trocar disparos com militares da Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam). O diretor foi flagrado pelos policiais quando invadia uma residência no Setor Cidade Jardim e tentava estuprar a proprietária, a dona de casa I.N.G., 26. (Leia mais na página 4 do caderno de Cidades)
À 0h30 de ontem, Ageu Lopes Silva, 34, morreu durante reação de tentativa de assalto a um policial à paisana na Rua CM 13, Setor Cândida de Morais.
De acordo com agentes do 5º Distrito Policial, onde o caso foi registrado, Ageu estava com um comparsa, Dener Augusto Cassiano, 25. Apesar de fugir após o assalto, ele foi baleado no braço e na perna direita, mas foi preso em seguida e encaminhado ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde permanecia até por volta das 18h30 de ontem, sob escolta policial.
O sábado começou ainda mais violento. A primeira ocorrência deu-se à 0h13, quando Valdeir Rabelo da Silva, 42, levou quatro tiros dentro do próprio barraco no Setor Grajaú. Poucos minutos depois, no mesmo horário, aconteceram dois duplos homicídios: um no Jardim Nova Esperança e outro no Jardim Goiás, numa região conhecida como Vila Lobó.
Rafael Francisco Costa, 20, e Cristiano Vieira dos Santos, 19 – vítimas do primeiro crime –, bebiam em bar quando foram assassinados à queima-roupa. Os jovens Márcio Duarte da Silva, 18, e Thiago Fernandes, 21, foram surpreendidos por três homens encapuzados que sacaram armas e lhes deram três tiros pelas costas. O mais velho estava em liberdade condicional desde junho de 2006. Este foi o quarto crime ocorrido na Vila Lobó em 20 dias.
À 1 hora da madrugada, na Rua 240, Quadra 43, Vila Monticelli, morreu Joverci Rodrigues Pereira, 40. O suposto autor é um vizinho dele, preso em flagrante. O homem teria utilizado um facão para cometer o assassinato.
No Parque Santa Cruz, às 3h30, Dilson Lucas Lopes Domingues, 21, foi surpreendido por um carro próximo à casa dele. Os homens sacaram armas e dispararam vários tiros.
No período da tarde, outros três homicídios foram registrados pela Polícia Civil. O primeiro ocorreu às 15 horas, na Avenida Buenos Aires, Jardim Novo Mundo. No local faleceu Érick Gomes Guimarães, 25, vítima de golpes de faca. O amigo dele, Walmir Lopes da Silva, 30, também foi atingido e encaminhado em estado grave ao Hugo.
Duas horas e meia depois dessa ocorrência, foi morto a tiros por dois homens que estavam em uma motocicleta o ex-informante da Delegacia de Repressão a Narcóticos (Denarc) Denazentino Pereira Nunes, 50. De acordo com a Delegacia de Homicídios, ele recebia constantes ameaças de morte devido ao trabalho que desenvolvia.
Outra vítima de execução foi Thiago Lourenço da Silva, 16, na Avenida Felipe Camarão, Bairro Goyá I. O adolescente foi baleado após discussão em um bar por causa de possível dívida com drogas. O rapaz tinha duas passagens na polícia por furto e assalto. O autor fugiu para feira próxima do local do crime e efetuou vários disparos para o alto.
‘Não existe grupo de extermínio’
O delegado titular da Deih, Jorge Moreira, diz que não há ligações entre os casos registrados neste fim de semana em Goiânia. “São ocorrências individuais, onde a vítima sempre tem uma pendência com o algoz. Ainda há os casos de reação, quando o autor é estimulado a praticar o homicídio. Não acreditamos que exista um grupo de extermínio”, acrescenta. Pendências que são confirmadas quando se averigua a ficha criminal dos mortos. “A maioria tem passagem pela polícia ou se envolvia com algo ilícito”, comenta o policial.
Sete dos crimes foram cometidos com arma de fogo. Segundo Moreira, a população tem grande poder bélico, o que pode ser fatal quando há uma motivação. “É quase impossível de se evitar que uma morte aconteça”, pondera.
A frase é ratificada pelo comandante do policiamento da Capital, coronel Domingos Aragão Lira. Ele também acredita que, por mais que haja empenho por parte dos órgãos de segurança, os homicídios são imprevisíveis e não estão sob controle da polícia. “Goiânia hoje conta mil policiais e 400 viaturas em rondas de 24 horas. Matar é algo que se faz individualmente e não há meios para que o militar possa controlar isso.”
Números da morte - Três vezes mais crimes do que San Francisco
# Goiânia teve 12 homicídios somente neste final de semana. Se a média se mantiver nos próximos meses, a capital pode bater seu recorde de mortes e chegar a 576 assassinatos.
# Em 2006, as ruas e casas de Goiânia presenciaram 321 homicídios. Comparado com cidades maiores e mais antigas, é número estável. Filadélfia, nos Estados Unidos, conhecida pela grande disputa de redes de drogas (cocaína), teve 403 mortes no mesmo período.
# Em Goiânia, 38% das vítimas têm entre 18 e 30 anos. 20% dos crimes aconteceram no domingo. Sendo que 30% dos crimes ocorreram na madrugada e 93% dos mortos eram homens. 71% dos assassinatos ocorreram por arma de fogo.
# 85 pessoas foram mortas em San Francisco (EUA) em 2006. Trata-se de cidade com grande circulação de turistas. É também a metrópole que inspira a maior quantidade de filmes policiais do cinema americano.
# Na semana de carnaval do Rio de Janeiro, em 2006, ocorreram 41 homicídios.
# No ano passado, 148 pessoas morreram em Oakland, uma das cidades mais violentas dos Estados Unidos e preferida dos goianos naquele país.
# Madri, na Espanha, apresentou apenas 72 assassinatos em 2006
# Cuiabá, capital do Mato Grosso, teve 328 homicídios no último ano. A quantidade é pouco maior do que a ocorrida em Goiânia. Principais motivos: vingança, alcoolismo e briga pelo tráfico de drogas.
Autor: Jonathan Jayme e Juliana Luiza
Data do Texto: 22/01/07
Fonte: DIÁRIO DA MANHA
Comportamento
Quando o mal triunfa
Crianças assassinadas, abandonadas, torturadas – as notícias que
têm chocado o Brasil lembram que o lado monstruoso do homem
pode até ser contido, mas jamais será definitivamente domado
Jerônimo Teixeira
Fotos reprodução/Diário Popular/Ag. Globo, Sergey Ponomarev/AP, EFE, Ricardo Rafael/O Popular/AE e AP
No coração das trevas
Em sentido horário, Madeleine, a inglesinha desaparecida; um iraquiano torturado em Abu Ghraib; a garota maltratada em Goiânia; a menina assassinada em São Paulo; e crianças mortas pelo terrorismo na Rússia
VEJA TAMBÉM
Nesta edição
• O anjo e o monstro
A morte de uma menina de 5 anos aparentemente jogada da janela do 6º andar já seria por si só brutal – mas o caso é tanto mais chocante porque o pai da garotinha aparece como suspeito do crime (veja a reportagem). Os brasileiros que se comoveram com o assassinato de Isabella Oliveira Nardoni acabavam de ser expostos a outra crônica de horrores: a empresária Sílvia Calabresi Lima, de Goiânia, torturava cotidianamente uma menina de 12 anos em sua área de serviço. Ao lado desses casos tenebrosos, outras barbaridades despontam no noticiário: a garota que pulou da janela do 4º andar para fugir do pai agressor, as crianças que ganharam bolo envenenado da vizinha, o bebê jogado no lago. Essa sucessão de fatos macabros traz a incômoda lembrança de uma constante da história humana: a maldade. O mal está presente em toda parte. Na grande arena da política internacional pode-se divisá-lo no genocídio de Darfur, na repressão política em Cuba e no Tibete, no terrorismo da Al Qaeda e das Farc, na leniência do governo americano com práticas de tortura. Esse tipo de mal é mais assimilável, pois se esconde atrás de razões de estado e de pretensas causas nobres.
Mas como metabolizar na alma o mal doméstico, que vem nu, sem disfarces, sem o véu de sofismas que poderiam desculpá-lo e torná-lo suportável pela racionalização de sua origem? Como entender que o sorriso lindo e angelical de Isabella possa ter sido substituído pela máscara da morte no frescor de seus 5 anos de vida? Esse tipo de mal não cabe sequer na aceitação de que coisas ruins podem acontecer a pessoas boas. Esse tipo de mal parece ser uma zona de sombra que aprisiona a alma humana. Esse tipo de mal simplesmente existe. Isso é o que o torna mais assustador.
Claudia Andrea Moreira/O Tempo/AE
Inocência atacada
Um bebê foi resgatado com vida da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, em 2006. A menina foi jogada na água, envolta em um saco plástico, por sua própria mãe, a vendedora Simone Cassiano. Levada a julgamento, ela alegou sofrer de depressão pós-parto – mas foi condenada por tentativa de homicídio
Desde os primórdios da humanidade essas situações-limite, insuportáveis, lançaram a razão humana em tortuosos exercícios mentais. "É desígnio dos deuses, e a única coisa a fazer é resignar-se" – foi essa desde sempre a saída mais humana para evitar a loucura da dor insuperável provocada pelo mal do mundo. O filósofo grego Xenófanes de Cólofon (560-478 a.C.) foi talvez o primeiro a se insurgir contra os deuses e suas maquinações. Xenófanes concluiu simplesmente que o mal perpassa todo o universo e da sua força nem os deuses escapam. Pelos séculos afora teólogos e filósofos tentaram ajudar a humanidade a conviver com o mal. Mais recentemente as explicações desceram do plano metafísico para se tornar objeto de estudo da sociologia, da psicologia e das ciências biológicas. Nenhuma teoria, porém, é capaz de abarcá-lo, de amainar o choque que ele provoca no corpo e na alma ou a destruição que causa no seio das famílias e no julgamento que fazemos de nós mesmos ao deparar com seres humanos agindo como bestas. Talvez a única certeza sobre o mal seja esta: ele é incontornável.
A palavra "mal" tende a levantar objeções dos céticos. Não será uma superstição religiosa que a modernidade superou? Não, não é. Na semana passada, veio à luz o caso de um menino de 9 anos que, por capricho de dois trabalhadores de uma fazenda em Aurilândia, em Goiás, teve o corpo queimado com um ferro de marcar gado. Não existe qualificação mais precisa para o ato de queimar um garoto por diversão: trata-se de maldade. E o adjetivo "mau" também serve com total propriedade para caracterizar as ações de Sílvia Calabresi Lima, presa em flagrante por tortura, em Goiânia. Sua vítima, L., de 12 anos, apresenta marcas de ferro quente na pele e necrose embaixo das unhas das mãos, entre outros ferimentos.
Ricardo Rafael/O Popular/AE
Claudia Andrea Moreira/O Tempo/AE
Crueldade sem freios
Dois casos de tortura chocaram o Brasil recentemente. Um menino foi marcado com um ferro em brasa (à esq.) em uma fazenda no interior de Goiás. Em Goiânia, uma empresária maltratava regularmente uma menina de 12 anos. Entre outras seqüelas, a garota teve dentes quebrados e ficou com necrose sob as unhas (à dir.)
A hipótese de uma psicopatia é forte no caso de Sílvia. O psicopata entende intelectualmente a diferença entre o bem e o mal, mas é desprovido de piedade, empatia, remorso – emoções que estão na base do senso moral das pessoas. Contrariando as ilusões de certo humanismo que acredita na possibilidade de reeducar qualquer criminoso, indivíduos assim são irrecuperáveis. Com recurso a técnicas recentes como a ressonância magnética funcional, a ciência tem se dedicado a mapear as áreas do cérebro responsáveis pelas decisões morais – áreas que apresentam atividade reduzida nos casos de psicopatia. As causas do distúrbio, porém, ainda não são compreendidas. O problema do mal dificilmente será resolvido nos laboratórios de neurociência. "O mal é um conceito humano, social. A neurociência não pode dizer o que é ou não mau", diz o neurocientista Jorge Moll Neto, do Instituto de Pesquisa da Rede Labs-D’Or, no Rio de Janeiro.
Seria cômodo imaginar que todo mal vem de uma falha neuroquímica, mas não é assim. A psicopatia, afinal, é um distúrbio raro. Não explica o mal em grande escala – genocídios como os que ocorreram na Bósnia ou em Ruanda nos anos 90, por exemplo. A psicologia social tem iluminado alguns mecanismos que atuam na disposição das massas para colaborar em projetos monstruosos. O que esses estudos revelam não é lisonjeiro para a natureza humana: a tendência das pessoas de se conformar à pressão do grupo social pode levá-las, com relativa facilidade, a atos criminosos. O exemplo clássico desse mecanismo foi exposto no chamado Experimento da Prisão de Stanford, em 1971. Uma falsa prisão foi improvisada em um corredor da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, e estudantes que se voluntariaram para a pesquisa foram divididos aleatoriamente em dois grupos, um de guardas, o outro de prisioneiros. Eram todos jovens normais, sem nenhuma tendência notável para a violência. Mas as humilhações a que os prisioneiros foram submetidos – revistas sem roupa, exercícios forçados, cela solitária – tornaram-se tão intensas que o estudo, programado para durar duas semanas, teve de ser interrompido no sexto dia. "Nem todos os guardas agiram mal. Os guardas ‘bonzinhos’, contudo, não fizeram nada para deter os abusos dos violentos", lembra Philip Zimbardo, psicólogo que conduziu a pesquisa – e que, desde então, vem analisando casos de crueldade praticados ao abrigo de instituições (já esteve até no Brasil, entrevistando policiais que torturaram durante a ditadura militar).
AP
Vítima da barbárie
Ex-candidata à Presidência da Colômbia, Ingrid Betancourt é prisioneira das Farc desde 2002. Sua saúde está piorando, mas os terroristas recusam-se a libertá-la. O rosto sofrido de Ingrid, em seu cativeiro, tornou-se um símbolo do drama dos seqüestrados
Os guardas, argumenta Zimbardo, sentiam-se autorizados a agir com brutalidade pela cobertura institucional da universidade. A ação em grupo diluía a responsabilidade individual. E os prisioneiros passaram por um processo de desumanização – eram chamados por um número, não pelo nome –, o que tornava mais "aceitáveis" os maus-tratos. Esses três elementos – respaldo de uma organização, ação em grupo e desumanização do outro – estão quase sempre presentes em situações nas quais prisioneiros de guerra são humilhados ou torturados, como no infame caso de tortura em Abu Ghraib, em 2003. Os maiores crimes políticos do século XX foram cometidos por regimes que demonstraram pleno entendimento desses mecanismos da psicologia de grupo – e que os levaram a extremos. A lógica de rebanho que às vezes rege a psicologia das massas, porém, não exime os que participam de genocídios e massacres. A responsabilidade individual é inescapável. O Tribunal de Nuremberg, que julgou líderes nazistas, não aceitava a obediência a "ordens superiores" como justificativa para crimes de guerra.
A perspectiva religiosa sobre o mal tende a enfatizar as escolhas individuais. O cristianismo vê o mal como fruto do orgulho humano (ou angélico, se pensarmos em Lúcifer, o anjo que cai da graça divina por sua soberba). É por imaginar a si mesmo como auto-suficiente, como uma espécie de divindade, que o homem se sente no direito de humilhar, ferir, matar o próximo. Mas a natureza cega do mal – especialmente do mal da natureza, os terremotos, enchentes, incêndios e outras catástrofes – coloca um problema para os religiosos: se Deus é bom, por que coisas más acontecem até mesmo aos justos? Que sentido pode ter, por exemplo, o drama de Madeleine McCann, a menina inglesa que sumiu de seu quarto de hotel em Portugal, em maio de 2007, e nunca foi reencontrada? Os grandes pensadores do cristianismo tentaram resolver esses dilemas. Santo Agostinho, por exemplo, dizia que, se bons e maus sofrem igualmente, é para que os primeiros possam provar sua virtude. Assim como o fogo "transforma a palha em cinza e faz brilhar o ouro", o infortúnio purifica os virtuosos e destrói os perversos, diz Agostinho em A Cidade de Deus.
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Reprodução
AP
Terra de bandidos
Torturada a mando de um namorado traficante, a jovem só não foi executada porque a arma do assassino falhou
Sem explicação
Madeleine McCann, de 4 anos, desapareceu de um hotel em Portugal em 2007 e ainda não foi reencontrada
Na história do pensamento ocidental, foi o cristianismo que aprofundou a noção de mal. Os filósofos gregos não se dedicaram tanto ao tema. O estoicismo, escola de pensamento grega e latina que pregava a aceitação serena do mundo, praticamente recusava a noção. "A natureza do mal não existe no mundo, pois não se concebe um fim destinado a não se realizar", dizia Epicteto, um dos mestres estóicos (talvez não seja por acaso que o imperador romano Marco Aurélio, outro clássico do estoicismo, mandava crucificar cristãos). A filosofia por muito tempo desconfiou da concepção de mal – seria um problema do domínio da teologia. Mas pensadores como Kant se esforçaram para dar uma dimensão laica ao mal. O mal é um conceito difícil, sem dúvida, mas hoje está bem estabelecido que se pode defini-lo sem recurso à fé. "O mal é toda ação voltada para eliminar as condições de uma existência racional", diz o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, autor de Retratos do Mal. Nesse conceito cabem, por exemplo, da violência contra uma criança ao atentado de 11 de setembro – todas ações que atentam contra a racionalidade.
O mal também é um grande tema da arte e da literatura, que testa os limites da racionalidade social por meio da ficção. Basta pensar na galeria de vilões de Shakespeare e em particular no insidioso Iago, de Otelo, que parece exercer sua ruindade apenas pelo prazer de ser ruim. Já se notou que o inferno de Dante é mais interessante do que seu paraíso, e que o grande personagem de Paraíso Perdido, de Milton, é satanás, e não Deus. Thomas De Quincey, escritor inglês da virada do século XVIII para o XIX, observou que a experiência estética coloca nossa moral em suspensão. Ele lembra o momento de Macbeth, de Shakespeare, em que o personagem-título acaba de matar o rei Duncan – e então alguém bate nos portões do castelo. Por um momento, o espectador se angustia com a possibilidade de Macbeth ser flagrado em seu crime. Shakespeare nos faz torcer pelo monstro e, com a maestria do gênio, revela o monstro que habita em cada um de nós e que precisa ser sempre vigiado.
As pessoas não torcem pelo monstro quando ele aparece no noticiário batendo em crianças com um martelo. Mas o fato de essas notícias produzirem tanto interesse atesta o fascínio do mal. Esses casos tenebrosos lembram que ele segue presente. A história ocidental conheceu progressos. Práticas bárbaras que já foram tomadas como normais por sociedades antigas – o sacrifício humano, o canibalismo, o assassinato de bebês com defeitos físicos – hoje são inaceitáveis. Mas será ingênuo pensar que esse progresso possa domar a besta humana. "A razão não explica tudo. Há uma dimensão monstruo-sa no ser humano que parece não fazer sentido. E é preciso respeitá-la", diz o filósofo e teólogo Luiz Felipe Pondé. Respeito, nesse caso, não se confunde com amor: é a distância que se guarda em relação àquilo que pode nos aniquilar.
Radicais Livres
Ano IX - nº385 - Novembro e Dezembro de 2005
Clique aqui para ver a versão em pdf
Caros(as) jornalistas,
Nesta edição que você está recebendo do Radicais Livres, referente aos meses de novembro e dezembro, um dos destaques é o espaço dedicado pela Mídia Jovem aos temas de diversidade. O Caderno Dez!, da Bahia, publicou matéria sobre os travestis, relatando as dificuldades e os preconceitos que eles enfrentam. No mês de novembro, em que é comemorado o Dia da Consciência Negra, três suplementos e a revista Viração estiveram atentos à questão étnica. O Gabarito (Correio Braziliense) fez matéria sobre convênio da UnB que assegura estágio para estudantes aprovados pelo sistema de cotas; e a Viração mostrou a realidade de jovens quilombolas. Já a condição de vida dos indígenas foi pauta na revista Capricho e no Gabarito.
Outros temas delicados foram abordados, como o suicídio entre jovens (nos suplementos homônimos Papo-Cabeça de João Pessoa e de Manaus); e o uso de drogas (na revista Atrevida). Os conflitos dos adolescentes na França, que foram manchete na grande mídia em todo o mundo, também apareceram, com análise de especialistas, no Folhateen, no Caderno Dez! e no Gabarito.
Especial sobre Aids
A cobertura sobre Aids, que vem apresentando queda nos últimos anos na Mídia Jovem, recebeu tratamento especial nos dois últimos meses do ano, em função do Dia Mundial de Luta contra a Aids (1º de dezembro). A revista MTV trouxe artigo de Mauro Dahmer, que fala de comportamentos sexuais mais liberais e de iniciativas de prevenção. Dahmer é responsável, na tevê, pelo Pacto MTV, que lançou em dezembro campanha de combate à transmissão do HIV, sempre com foco na juventude e nas mulheres.
A Viração dedicou toda a edição de dezembro/janeiro para a Aids. Em suas páginas, os jovens que fazem a revista se debruçaram numa pauta minuciosa, que foca desde projetos de prevenção nas escolas, passando por centros de testagem e pelos medicamentos, além de uma entrevista com a escritora e estudante Valéria Polizzi, hoje com 34 anos, que ficou conhecida, na década de 1990, ao descrever seu processo de convívio com o HIV, no livro Depois daquela viagem. Outro destaque da revista é uma reportagem sobre sexualidade e HIV, de autoria do Jornalista Amigo da Criança Aureliano Biancarelli, que esteve em Moçambique, onde o índice de jovens infectados chega a 20%.
A capa da edição de 29 de novembro do Megazine (O Globo) também foi sobre o tema. A matéria de Ediane Merola fala de projetos de apoio a soropositivos, do uso de testes e de medicamentos anti-HIV. Também alertaram seus leitores sobre a prevenção o Zine (A Gazeta-MT), o Dez!, o Galera-SE e a revista Capricho.
Esta edição do Radicais Livres traz ainda uma análise da cobertura da grande mídia sobre Aids e uma entrevista com um jovem soropositivo que trabalha em projeto de prevenção no Grupo pela Vidda, no Rio de Janeiro.
Boa leitura!
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ATUALIDADES
Adolescentes incendiários
A França viveu dias de manifestações violentas, com destruição de escolas, saques a supermercados e incêndios de carros, provocadas por adolescentes revoltados com a morte de dois jovens, filhos de imigrantes, que foram eletrocutados quando fugiam da polícia num subúrbio em Paris. Os jovens manifestantes, de 14 a 20 anos, queriam chamar a atenção sobre a repressão policial, o preconceito e o desemprego. Os protestos duraram mais de duas semanas e o governo da França adotou estado de emergência, que amplia o poder da polícia e limita as liberdades civis. Embora os protestantes sejam quase todos muçulmanos ou filhos de imigrantes, os distúrbios não estão relacionados a motivos religiosos. O desafio deles é derrubar o ministro do Interior francês, Nicolas Sarkozy, conservador, que chamou os manifestantes de escória e determinou a expulsão do país de todos os estrangeiros condenados por envolvimento com a revolta. O estudante de Paris Frederic Serbin, de 24 anos, afirma que embora a França seja adepta da diversidade cultural, o país não aplica isso internamente. “Quando você nasce árabe ou negro, tem que buscar as chances para ser respeitado, do contrário restará como um ‘pequeno negro’, com todas as conotações pejorativas que disso decorre”, diz. O professor de História da Universidade de Brasília Antonio Barbosa afirma que os distúrbios na França expressam um drama de longa data: a exclusão social.
(Folhateen/Folha de S. Paulo, 21/11, pág. 3, Fábio Victor; Caderno Dez!/A Tarde-BA, 17/11, págs. 6-9, Carla Bittencourt e Nadja Valdi; Gabarito/Correio Braziliense, 28/11, pág. 8, artigo de Antonio J. Barbosa)
Liberdade ameaçada
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, oficializou um projeto de lei que dá poderes à polícia para prender suspeitos de terrorismo por até três meses sem nenhuma acusação formal. O projeto gerou polêmica e muitas críticas de grupos de defesa dos direitos humanos. Tony Blair alega que a proteção da população contra o terrorismo é sua principal tarefa. Deportar muçulmanos do Reino Unido suspeitos de ligações com o terrorismo, fechar livrarias e websites radicais são outras medidas estabelecidas pelo projeto. Com os direitos humanos ameaçados, jovens e grupos de ativistas protestam contra Blair. Em 2003, foi criada a organização School Students Against War (Estudantes contra a Guerra), que há dois anos conseguiu reunir cerca de 50 mil jovens em um protesto contra a guerra no Iraque. Alguns estudantes até concordam com a deportação de gente ligada ao terrorismo, desde que haja provas.
(Viração, novembro, págs. 18 e 19, Mariana Cacau)
Triste realidade
O Maranhão é o quarto estado brasileiro com mais alunos fora da escola. Na região nordeste, é o segundo, só perdendo para Alagoas. O estado também apresenta altos índices de repetência e evasão escolar. Os motivos são a baixa condição financeira de grande parte das crianças, o que leva muitos desses meninos e meninas a trabalhar vendendo doces nas ruas. Esse é um dos quadros apresentados pela pesquisa Observatório Criança elaborada pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Pe. Marcos Passerini e pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. O estudo teve como base dados oficiais do Poder Público, de conselhos tutelares e de ONGs. Ao retratar a realidade, a pesquisa pretende servir de referência para auxiliar no cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. Na área de saúde, a condição também é grave: 50,2% dos casos de morte infantil ocorrem por infecção na hora do parto. Em 2000, de todos os partos ocorridos no SUS no Maranhão, 33% foram de mães adolescentes.
(Galera/O Estado de Maranhão, 26/11, pág. 6)
Nota ANDI - Esse quadro no Maranhão reforça a importância de mais investimentos em políticas de educação. A escola pública é a grande provedora da educação para os jovens, segundo a pesquisa Juventude Brasileira e Democracia, realizada em sete regiões metropolitanas mais o Distrito Federal. Entre os oito mil entrevistados de 15 a 24 anos, 86,2% declararam estudar ou já terem estudado em escolas públicas na maior parte de sua trajetória escolar, enquanto apenas 13,7% eram oriundos de escolas privadas. Entre os que não completaram o Ensino Fundamental, embora tenham mais de 14 anos – idade esperada de conclusão dessa etapa de escolarização, a maioria é das regiões metropolitanas do Recife (37,2%), de Belém (33,5%) e do Rio de Janeiro (30,5%). O indicador educacional mais favorável é de São Paulo, onde estão 16,7% dos que não completaram o Ensino Fundamental. Na pesquisa qualitativa, que ouviu 913 jovens, ficou demonstrado que eles têm percepção de que a educação deve melhorar e fazem propostas para isso. Embora manifestem um sentimento de decepção, os jovens acreditam no papel da educação como elemento capaz de produzir mudanças. Eles reivindicam mais investimentos e verbas à área e reconhecem que há um “descaso” dos governantes em relação ao problema. Eles sabem que a educação é um direito social e um dever do Estado e que não tem sido prioridade política. A falta de docentes nas escolas é percebida como causadora de profundos danos para os estudantes, principalmente em relação à sua vida futura e à inserção no mercado de trabalho: “Tem muita gente que fica às vezes meses sem professores em matérias importantes e acaba terminando o segundo grau com uma grave deficiência de aprendizagem. Assim, fica mais difícil querer almejar vôos maiores pra depois conseguir um emprego melhor”, declarou um jovem do Rio de Janeiro.
Da janela do ônibus
Adolescentes de São Paulo que nunca andaram de ônibus sozinhos falam sobre o medo de subir no coletivo, mas apontam o transporte como sinônimo de mais liberdade e independência. Renata Gouvêa, 13 anos, conta que sua mãe não a deixa ir sozinha para nenhum lugar. “Nem de táxi. Ela fala que a violência está muito grande, e a gente vê na tevê que o índice de seqüestros aumentou em São Paulo. Ela exagera um pouco, mas concordo em parte”, diz. Vanessa Arida, 16 anos, só andou de ônibus em Paris, na Escócia e no País de Gales. Em São Paulo, ela conta que tem medo. Roberto Walton, 18 anos, afirma que não precisa andar de ônibus porque tem carro com motorista. Só usou esse tipo de transporte na Inglaterra, onde ficou um mês. Agora que completou 18 anos, diz que pegar ônibus faz parte de sua independência. “Esse negócio de violência, acho que falam muito mais do que é”. Outra adolescente, Laura Lima, 13 anos, afirma que mesmo que sinta medo tem que aprender a se virar. “É chato depender dos outros”.
(Folhateen/Folha de S. Paulo, 21/11, págs. 6 e 7, Lucrecia Zappi)
Nota ANDI - Ao publicar matéria com adolescentes que nunca andaram de ônibus, o Folhateen provoca um debate importante para seu público. Afinal, embora o transporte público faça parte do cotidiano de grande parte dos jovens brasileiros, ainda é uma realidade bem distante de uma minoria que tem carro próprio. Os leitores do suplemento se manifestaram, com comentários controversos, em cartas enviadas ao jornal e publicadas nas duas edições seguintes. Na edição de 28/11, alguns criticaram a pauta, dizendo que há temas mais importantes a serem abordados; outros gostaram da matéria, mas não dos depoimentos dos entrevistados. “Achei um absurdo que jovens nunca tenham andado de ônibus na vida. Francamente, seremos os futuros médicos, advogados, juízes, jornalistas ou qualquer profissão de grande importância do Brasil. Para isso temos que conviver com a realidade do nosso País bem de perto desde cedo”, disse Helena Lucas, de 15 anos, de Barretos-SP. Leonardo Quinto, de 15 anos, de São Paulo, escreveu: “A elite sente medo ao utilizar esse tipo de transporte, pois sabe que seus bens materiais estão sendo cobiçados por quem não tem condições de tê-los. Adoro andar de ônibus, é ótimo ver a cidade balançando pela janela”.
Saber viver
Com a vida toda pela frente e muita coisa para curtir, a morte parece um assunto distante dos jovens. No entanto, nos últimos anos, triplicou o número de suicídios entre pessoas de 15 e 19 anos, chegando a ser a terceira maior causa de morte no Brasil entre jovens, atrás dos acidentes de trânsito e dos homicídios. Segundo especialistas, a depressão é uma das principais causas. Outro motivo são os conflitos familiares e amorosos. O uso de drogas já é um indicador de que algo não vai bem, segundo o pediatra e psicoterapeuta especializado em adolescência Hermano José Almeida. “As pressões do mundo moderno que exigem que o jovem vença, passe no vestibular e decida muito cedo a profissão que terá para o resto da vida também são cobranças que podem trazer frustrações”, explicou. A família é um suporte importante para os adolescentes superarem as dificuldades naturais dessa fase da vida. Luana Palitot, de 16 anos, afirma que quando um adolescente enfrenta uma barra muito difícil o melhor é procurar ajuda da família, dos amigos, dos professores ou de médicos. “Para muitos, é difícil agüentar o tranco e sair dessa sozinhos”, avalia. O suicídio de três jovens em São Gabriel da Cachoeira-AM também provocou os adolescentes a refletirem sobre a questão. “Acho que a depressão pode levar um jovem a se matar. Eu já tive depressão porque não estava conseguindo arrumar um emprego e não tinha perspectivas”, disse Sérgio de Souza, 20 anos.
(Papo-Cabeça/Correio da Paraíba, 27/11, pág. 1, Cristina Fernandes; Papo-Cabeça/A Crítica-AM, 19/11,
pág. 3, Omar Gusmão)
Nota ANDI - Segundo o estudo Mapa da Violência IV, lançado em 2004 pela Unesco, os casos de suicídio entre adolescentes cresceram 30,8% entre 1993 e 2002, no Brasil, quando alcançaram o número de 1.637 na faixa de 15 a 24 anos. Poucos suplementos juvenis, no entanto, acompanharam essa tendência, deixando de abordar o tema com mais profundidade. Este comportamento pode ser justificado por alguns estudos que relacionam a cobertura de suicídios ao encorajamento de outros jovens que já estejam pensando no assunto. Contudo, no documento Prevenção do suicídio: um manual para profissionais da mídia, produzido em 2000, o Departamento de Saúde Mental da OMS traz algumas dicas para uma cobertura jornalística responsável e preventiva, como, por exemplo, referir-se ao suicídio como “consumado” e não “bem-sucedido” ou fornecer informações sobre números de telefones e endereços de grupos de apoio.
Natal e religião
A comemoração do nascimento de Cristo em 25 de dezembro é originalmente uma manifestação do cristianismo. Contudo, no Brasil, que abriga diversas religiões, o espírito da época envolve tanto católicos quanto pessoas de outras crenças. A iraniana Shabnam Ebraimi, de 21 anos, mora no País desde os primeiros anos de vida, e conta que não celebra a data, mas respeita todas as comemorações. Ela só acha que o Natal está muito relacionado com o comércio, o que acaba ofuscando o sentido real da festa. Lara Vainer Schucman, de 27 anos, diz que não se preocupa em comemorar porque esse sentimento não foi cultivado por sua família que é judia. Ela admira a solidariedade que o Natal desperta nas pessoas e a união entre os familiares. Luana Wirth, de 18 anos, que também não comemora a data por ser judia, relata que é impossível não ser contagiada pela alegria das pessoas e dos amigos nesse período.
(Patrola/Correio Catarinense, 23/12, pág. 2, Denise Ribeiro)
Decodificando os jovens
Para os adultos, as conversas entre os jovens parecem incompreensíveis, com palavras estranhas e aparentemente fora do contexto. Mas elas identificam um grupo específico. As gírias costumam estar em toda parte e deixam muitos pais irritados e professores preocupados. O argumento é que os jovens que abusam das gírias acabam tendo um vocabulário limitado. O professor de lingüística da PUC-SP Dino Preti concorda. Seu colega Bruno Dallari, também professor de lingüística da universidade, rebate os argumentos. “De modo algum representa um empobrecimento do vocabulário. Trata-se de um processo criativo e de renovação”, explica. Mas o fato é que quem está acostumado a usar muitas gírias não consegue produzir textos totalmente livres desses jargões. “A expressão ‘tipo assim’ é a que mais entra na redação”, assinala Adriana Silveira de Almeida, professora e coordenadora de português. Os jovens também discordam da limitação. “Pode parecer pobre para os outros, mas para os jovens é muito importante porque eles se entendem assim”, afirma Eliomar Nunes, de 16 anos. Entretanto, outros adolescentes resolveram diminuir o uso das gírias. É o caso de Juliana Virgílio, de 16 anos. “Comecei a me policiar. Numa entrevista de emprego não poderei soltar um ‘fala aí, velho’’’, diverte-se.
(Papo-Cabeça/A Crítica-AM, 12/11, pág. 3, Adriana Teixeira)
Gripe aviária
A gripe aviária é hoje motivo de grande preocupação devido à sua disseminação nos países europeus. Uma das formas de manifestação da doença é muito contagiosa e com mortalidade de 100%. Até pouco tempo atrás, a gripe era restrita às aves, mas, em 1997, um surto em Hong Kong contaminou e matou seres humanos. A grande preocupação dos órgãos de saúde pública é que esse vírus possa adquirir a capacidade de se transmitir entre pessoas, aumentando o risco de uma pandemia mundial da influenza. Entretanto, é importante lembrar que somente pessoas com contato muito próximo às aves podem ser infectadas, já que o vírus não sobrevive após o cozimento da carne. No Brasil, o risco de uma epidemia de influenza aviária é pequeno, pois a avicultura brasileira é quase toda industrial, com um rígido controle sanitário.
(Gabarito/Correio Braziliense, 7/11, pág. 4, Clarice Weis Arns)
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SEXUALIDADE
Indefinição sexual
Em carta enviada ao Folhateen, um rapaz de 21 anos conta que nunca ficou com uma menina e que se sente interessado eventualmente por meninos. Ele diz que já tentou fazer terapia, mas parou porque não se sentia à vontade. “Não posso me considerar homossexual sem conhecer os dois lados da sexualidade”, escreve. Segundo o colunista Jairo Bouer, a maior parte das pessoas não precisa ficar com outras do mesmo sexo ou do sexo oposto para saber a sua orientação sexual. No entanto, essa questão pode não ser tão simples para muita gente. No caso de dúvidas, Bouer sugere justamente a terapia. Segundo o colunista, o processo de análise provoca mesmo desconforto e ansiedade porque faz com que o indivíduo se confronte com seus conflitos de maneira a encontrar respostas a essas questões.
(Folhateen/Folha de S. Paulo, 21/11, pág. 2, Jairo Bouer - colunista)
Puberdade precoce
A puberdade precoce tem preocupado pais, educadores, médicos e psicólogos por ser cada vez mais freqüente em crianças do mundo todo. Ela consiste no desenvolvimento de caracteres sexuais secundários, como o surgimento de pêlos e o aumento dos seios. Nas meninas, isso se observa antes dos oito anos, e nos meninos, antes dos nove. Com esses distúrbios, as crianças podem sofrer transtornos emocionais, depressão, aumento de agressividade, baixa auto-estima, pois o desenvolvimento corporal não acompanha o mental. As causas dessa precocidade são desconhecidas. Mas inúmeros fatores podem acarretá-la, por exemplo, a obesidade, a falta de exercícios físicos, a erotização da moda infantil, a estimulação visual de caráter sexual pela mídia, problemas hormonais e até mesmo a ausência dos pais – que muitas vezes não dão importância e nem acompanham essa fase importante da vida de seus filhos.
(Galera/O Estado do Maranhão, 19/11, pág. 3, Silvana Martani)
O primeiro beijo
Tudo por um namorado é o título do livro escrito por Thalita Rebouças que trata dos primeiros romances na adolescência. A escritora, que se lembra da ansiedade que sentiu em beijar pela primeira vez, conversou com meninas de 11, 12 e 13 anos, nas escolas, para saber como as adolescentes de hoje vivenciam as primeiras paixões. A escritora constatou que as garotas estão mais desencanadas com relação ao primeiro beijo e até contam com a cumplicidade da família. Segundo o livro, as meninas ainda esperam um “príncipe encantado” e acham que a iniciativa deve partir dos rapazes. Os primeiros beijos também são abordados pela psicóloga Silvana Martani, em artigo publicado no suplemento Galera-MA. Segundo ela, muitos pais ficam ansiosos para que seus filhos sejam bem sucedidos nas primeiras experiências afetivas e consideram difícil e delicada a tarefa de orientá-los sexualmente. É na puberdade que a criança se despede da infância rumo à adolescência. Os jovens precisam se sentir preparados para o que estão vivenciando e cada um tem um tempo, de acordo com sua maturidade emocional, educação, além da influência cultural e social. Seja como for, a juventude não deveria ser pressionada a antecipar fases. Os pais, para ajudar, poderiam adotar uma conduta mais neutra e contar sobre suas próprias experiências de cada fase e esperar que, com isso, o filho se encoraje a falar naturalmente sobre seus medos, angústias e ansiedades.
(Papo-Cabeça/A Crítica-AM, 26/11, pág. 3, Tatiana Clébicar; Galera/O Estado do Maranhão, 5/11, pág. 5, Nívia Martins, psicóloga)
Na casa do namorado
O ator Marco Antônio Gimenez, de 25 anos, dorme três vezes por semana na casa da namorada Shimeny Vasconcellos, de 21 anos. O argumento para convencer os pais dela e a mãe dele foi a segurança. Eles moram no Rio de Janeiro, a 40 km de distância entre uma casa e outra. Os dois acreditam que é mais tranqüilo ele dormir na casa dela que fica perto do trabalho do rapaz e evitar andar pela cidade tarde da noite. Namorando há mais de dois anos, Julia Santos, 20 anos, e Bruno Teixeira também dormem juntos na casa dela. Nem sempre foi assim. No início do namoro, a mãe dela não deixava. A primeira vez que o casal dormiu na casa de Julia era tão tarde que ela só contou aos pais no dia seguinte. A mãe dela não teve nenhum chilique, mas pediu que, da próxima vez, ele dormisse em outro quarto. Essa situação foi mudando e hoje é normal o Bruno dormir na cama da namorada.
(Capricho, 21/11, págs. 22-29, Marina Fuentes)
Período fértil
Uma garota de 16 anos escreveu para a Atrevida com dúvidas sobre como identificar se está em período fértil e pedindo informação sobre o uso de pílula ou de injeção como anticoncepcionais. Na resposta, a revista explica o que é o período fértil e orienta a menina a procurar um médico ginecologista porque o acompanhamento profissional é fundamental para a escolha do método anticoncepcional. Numa outra carta, uma adolescente pergunta se é perigoso transar no primeiro encontro com um garoto desconhecido. A revista alerta sobre o risco que ela pode correr se o rapaz for violento ou se tiver alguma doença sexualmente transmissível.
(Atrevida, nº 135, novembro, pág. 20)
Nota ANDI - Embora tenha orientado sua leitora a procurar um médico, o que é sem dúvida um bom conselho, a revista Atrevida poderia ter reforçado para a garota a importância do uso de camisinha nas relações sexuais. Seria uma boa oportunidade de deixar claro que, além de se prevenir contra uma possível gravidez indesejada, o preservativo também é importante para evitar a infecção pelo HIV. O uso de pílula ou qualquer outro anticoncepcional similar não impede a transmissão do vírus. Na outra resposta, a revista também poderia ter mencionado o uso da camisinha. Diante do crescimento do HIV entre as mulheres, é muito importante lembrar as adolescentes de que sexo seguro – como é o nome da coluna da revista – requer esses cuidados.
Durante o sono
Muitos adolescentes se assustam com a chamada polução noturna, processo involuntário de excitação durante os sonhos. No entanto, ela é absolutamente normal. Nos meninos, podem ocorrer a ereção e o orgasmo na hora do sono, quando geralmente sonham com algo erótico. As meninas também podem atingir o orgasmo quando estão dormindo, por causa de sonhos ou fantasias sexuais. Esse processo ocorre mais freqüentemente na adolescência. Essa fase é caracterizada por transformações corporais, como produção excessiva de hormônios, e pelo fato de os adolescentes ainda não terem vida sexual ativa e regular. Entretanto, adultos também podem ter polução, quando privados de vida sexual.
(Papo-Cabeça/Correio da Paraíba, 11/12, pág. 1, José Alves)
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EDUCAÇÃO
Escrito à mão
Apaixonado por literatura, o estudante Aldair da Silva, 15 anos, resolveu escrever seu próprio livro. Durante dois anos, o aluno da Escola Estadual Nossa Senhora da Penha, em Ijuí-RS, escreveu o livro Caminhos que conta a história de um personagem que sofre de depressão. Detalhe: tudo foi escrito à mão, em folhas de caderno. Sem acesso a computador em casa ou na escola, ele não tem idéia de quantas canetas gastou até chegar às 212 páginas do livro que aborda temas adultos, como a depressão e o câncer. Ele recebeu apoio da professora de português. Para pagar R$ 150,00 para a digitação do texto, a escola promoveu uma rifa. Agora ele está atrás de recursos para bancar a publicação de mil exemplares. E já pensa num segundo livro, sobre a vida das mulheres no século XIX.
(Patrola/Zero Hora-RS, 25/11, pág. 2, Pietro Rubin)
Documentário
Vencedor de três prêmios na 29ª Mostra Internacional de Cinema, o documentário Pro Dia Nascer Feliz, do cineasta João Jardim, parte do universo escolar para mostrar cenas do cotidiano pobre e desprovido do sertão nordestino e das periferias de Rio e São Paulo. “O ponto de partida são impressões sobre a escola, mas imaginei duas questões: a de abordar as dificuldades do ensino e também os dramas que os adolescentes estão vivendo naquele momento”, diz Jardim, que dirigiu, editou e escreveu o roteiro. Os relatos vão desde uma adolescente que recita um poema de Vinícius de Moraes até a história de um aluno que esfaqueou outro no corredor do colégio, passando por escolhas de carreiras e adolescentes que querem estudar menos. O filme ganhou os prêmios da Juventude, Bombril e do Júri da Mostra, e tem estréia prevista para junho de 2006.
(Folhateen/Folha de S.Paulo, 14/11, pág. 11, Lucrecia Zappi)
Leitura liberada
O projeto Prefiro lê-los, não tê-los pretende mostrar que a idéia de livros mofando nas estantes acabou. Desenvolvida pelo professor de História Márcio Vaccari com alunos da Escola Monteiro Lobato, de Vitória, a idéia é deixar livros à disposição, em uma estante ao ar livre, para quem quiser levá-los. Não é obrigatório se cadastrar ou preencher fichas e nem obedecer a prazos de devolução. Doar livros para colocar no lugar dos retirados não é obrigatório, mas é bem-vindo. “A maior intenção é estimular a leitura. Além de despertar um sentido de dividir com outros algo que foi bom, no caso, a leitura”, explica Vaccari. Os alunos participantes do projeto perceberam que muitos livros ficavam anos parados em suas casas sem ninguém ao menos abri-los. “O livro sempre vai ser útil para alguém e, por isso, ele deve ser passado pra frente”, diz o estudante Tales Torezani, de 16 anos.
(Fanzine/A Gazeta-ES, 9/11, pág. 8, Marcelo Pereira)
Ampliação do Ensino Fundamental
O governo federal está trabalhando para aprovar o projeto de lei que propõe a ampliação do Ensino Fundamental de oito para nove anos. O argumento é que a capacidade da adquirir conhecimento para formação educacional, profissional e social desenvolve-se exatamente nesse período. A proposta já foi aprovada pelo plenário da Câmara dos Deputados e está dependendo agora da aprovação no Senado Federal. De acordo com dados do governo, 22 estados mais o Distrito Federal têm ensino fundamental, e 80% das crianças com 6 anos de idade estão matriculadas e freqüentando a escola.
(Galera/Correio de Sergipe, 6/12, pág. 3)
Barrados no vestibular
A primeira fase do vestibular da Fuvest, o mais concorrido do País, teve este ano número recorde de candidatos: 170.496 inscritos para 9.952 vagas na Universidade de São Paulo (USP). Com tamanha concorrência, estar entre os desclassificados não pode ser motivo de desânimo. Especialistas orientam os estudantes que não passaram a fazer um bom planejamento para as próximas provas. Estudar em grupo e ter uma rotina de atividades físicas ajudam a manter o estímulo e a concentração para repassar as matérias. Amilkar Gonçalves de Moura, de 19 anos, que não passou em letras em 2004, não desiste de tentar. “Cada um tem seu ritmo e, se eu não conseguir, vou tentar de novo. Não posso deixar de sonhar”, diz.
(Folhateen/Folha de S. Paulo, 28/11, pág. 6, Lucrecia Zappi)
Treineiros
Muitos alunos do 2º ano do Ensino Médio costumam participar da seleção do vestibular da Universidade Federal de Minas Gerais apenas para avaliar seus conhecimentos e ver, na prática, como é o ambiente da prova. Fazer a prova sem compromisso, sem a obrigação de ter o nome na lista dos aprovados, é o que motiva muitos deles. Dos mais de 67 mil candidatos do último vestibular da UFMG, quase 1.500 estudantes eram treineiros. A participação desses candidatos, na maioria das vezes, é incentivada pelas escolas. De acordo com especialistas, ser treineiro deveria ser uma opção natural dos alunos que ainda não terminaram o 3º ano. “O grande desafio do vestibular ainda é a questão emocional. Ver como a prova é, antes de ser um real candidato, é muito importante”, defende Ronaldo Maciel Costa, supervisor de Ensino Médio do Colégio Magnum Agostiniano. O estudante Luiz Filipe Ferreira, de 17 anos, foi aprovado no curso de fonoaudiologia no 2º ano, mas não relaxou nos estudos. “Escolhi fonoaudiologia porque pretendo estudar medicina e a prova do vestibular é bem parecida”. Ao contrário de Luiz, Marina Garcia Borges, de 18 anos, preferiu não fazer a prova porque acredita que quem faz diminui o ritmo dos estudos. “Quem passou está se sentindo muito seguro e com grande expectativa de que vai passar no fim do ano. Prefiro imaginar que será bem difícil e vou ter que estudar muito”, diz.
(D+/Estado de Minas, 1/11, págs. 6 e 7, Ana Carolina Seleme)
Ler e interpretar
As questões da área de humanas são responsáveis pelas maiores médias de acerto na primeira fase da Fuvest. Os examinadores estão cada vez mais preocupados em simplificar o enunciado e concentrar os testes no conteúdo exigido. A vice-diretora da Fuvest, Maria Theresa Rocco, entretanto, afirma que a meta dos examinadores é tornar os enunciados sempre mais inteligíveis. “O aluno que leu e não entendeu é um aluno que não está preparado. A linguagem procura ser precisa e pertinente à disciplina”, diz. Outro ponto importante para quem faz vestibular é estar atento aos últimos fatos da política e dos fenômenos climáticos mais recentes, que podem ser úteis na hora da prova. Decorar regras está fora de cogitação. “O aluno tem que entender a língua como um instrumento dinâmico. Não basta saber a gramática de cor, precisa saber aplicá-la’”, diz Adalberto Gomes, do grupo Stockler Vestibulares.
(Fovest/Folha de S. Paulo, 1/11, págs. 6 e 7, Renata Baptista e Simone Harnik)
Com a mão na massa
Alunos do segundo ano do Colégio Marista Dom Silvério, em Belo Horizonte, escolheram a linguagem cinematográfica como recurso na produção de conteúdo para as disciplinas de português, geografia e história. Eles receberam informações sobre história do cinema, estilos, aprenderam a analisar filmes e tiveram oficinas sobre linguagem e todas as etapas de produção, da elaboração do roteiro à edição. O resultado – 18 curtas-metragens – foi exposto no Festival de Curtas com o tema Cotidiano – Espaço de Vivência. Fernanda Louzada, de 16 anos, transformou sua casa em set de filmagem, mobilizando toda a família. Marjorie Lopes, de 16 anos, gostou tanto de ter participado da direção do filme Kódigo Karma que chegou a pensar em seguir essa carreira. “Ainda tenho um ano pela frente para me decidir”, pondera. Cerca de 150 alunos do Ensino Fundamental da Prefeitura de Vitória participam do Projeto Animação, que tem a finalidade de formar animadores capazes de atuar na produção de filme ou vídeo de animação. Os estudantes de 15 a 21 anos da rede municipal estão se capacitando e já vêem os resultados desse trabalho. Na animação Vitória pra Mim eles montaram uma cidade de massinha para dar suporte à história. “A gente não tinha noção de como animar. Para fazer um boneco dar um passo, temos que fazer oito desenhos”, explica Werlen Ramon Rodrigues, de 15 anos.
(Atitude/Hoje em Dia-MG, 13/11, pág. 29, Luciana Neves; Tribuna Teen/A Tribuna-ES, 10/11, pág. 5, Rose Frizzera)
Formação humanística e artística
Matérias como espanhol, filosofia e sociologia podem ser incluídas na grade curricular, conforme proposta do Ministério da Educação (MEC), sem que haja obrigatoriedade dessa implantação por parte das escolas. O D+ ouviu a opinião de muitos jovens e chegou à seguinte conclusão: a escola dos sonhos dos alunos abusa da formação humana e artística, deixando de lado matérias chatas, como física e química, e investindo em atualidades e meio ambiente. Na visão de Felipe Alamy, de 17 anos, a filosofia e outras matérias deveriam ser incluídas desde o 1º ano do ensino médio e não somente no último. “Especialmente no meu caso, que vou tentar uma vaga no curso de direito, a filosofia é cobrada no vestibular”, afirma. Para Lucas Sallum, de 16, que quer fazer comunicação social, o meio ambiente deveria ser uma matéria específica, assim como atualidades. “A gente até vê algumas coisas nas aulas de história e geografia, mas é tudo muito vago e o jovem fica perdido quando se trata de assuntos como política e economia”, conta. Em países desenvolvidos, onde o currículo é mais flexível, os alunos podem escolher entre várias disciplinas oferecidas, desde que a grade curricular convencional seja cumprida. Sendo assim, o jovem acaba mesclando matérias obrigatórias, como matemática, química, inglês e biologia, com aulas mais livres como snowboard, cerâmica, soccer, jazz ou ainda cursos menos tradicionais como rituais africanos, cidadania global ou hebraico. Para alguns alunos, a filosofia não deveria ser obrigatória porque a forma como é ensinada não é muito atrativa. “A filosofia desperta o nosso lado crítico, transforma a nossa visão de mundo e nos instiga a querer saber mais. Mas na escola fica cansativo porque, em vez de estimular a gente a pensar, a matéria acaba sendo apenas uma a mais a ser cumprida”, diz Alisson Jéferson, de 19 anos, pré-vestibulando, de Samambaia (DF). Melisse Gonçalves, 18 anos, de São Paulo, acredita que é uma ótima matéria para ser ensinada nas escolas, pois ajuda “os alunos a lidarem melhor com a vida”.
(D+/Estado de Minas, 8/11, pág. 6-8, Ellen Cristie; Viração, novembro, págs. 6 e 7)
Nota ANDI - Todas as ações dos jovens centradas na cultura são fundamentais para a formação e educação. A implementação de políticas públicas que propiciem o acesso desse grupo ao lazer e à cultura é apontada como uma necessidade por brasileiros de 15 a 24 anos ouvidos para o estudo Juventude Brasileira e Democracia, divulgado em novembro pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e pelo Polis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais). Para a pesquisa, foram entrevistados numa primeira fase 8 mil jovens de Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Distrito Federal. Numa segunda fase, 913 jovens participaram da pesquisa qualitativa, nessas regiões, dentro dos chamados Grupos de Diálogo. Nesse debate, a escola aparece associada à cultura e ao lazer, como um dos únicos equipamentos e espaços públicos que as comunidades pobres possuem. Foram citadas as possibilidades que as escolas eventualmente têm proporcionado aos jovens das camadas populares: eles lembraram das bibliotecas, dos passeios culturais (visitas a feiras de livros, a exposições e museus), da ida a espetáculos (teatro, cinema), das atividades esportivas. Muitos deles demandam, inclusive, a abertura das escolas nos finais de semana. Uma das entrevistadas, do Rio de Janeiro, disse: “Tinha que ter aula de teatro em todas as escolas. Sem teatro, a pessoa não consegue falar assim em público. Ah, tinha que ser obrigatório”. Os jovens afirmaram ainda que as ofertas de cultura estão concentradas nas zonas de maior poder aquisitivo das cidades.
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DIVERSIDADE
Turismo rural
Trabalhar com turismo longe dos agitos das cidades litorâneas é uma alternativa para os jovens que desejam cursar uma graduação sem sair de casa. A Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) lançou o curso de Turismo Rural à distância que pretende formar profissionais capazes de gerenciar o turismo rural em empresas públicas ou privadas. Como o turismo é responsável pelo crescimento de inúmeras regiões de Santa Catarina, o curso pretende preparar estudantes para explorar estâncias hidrominerais, centros históricos e a gastronomia local para agregar valor a pontos fora do litoral catarinense. A primeira aula será presencial para a apresentação geral do curso, da metodologia de estudos e do ambiente virtual de aprendizagem. Os trabalhos serão via internet e as avaliações, realizadas em cada semestre, presenciais. A vendedora Gilmara Ferreira, que deixou a faculdade de Pedagogia por falta de interesse pelas disciplinas, é uma das alunas do novo curso. Ela se diz apaixonada pela vida no campo. Santa Catarina foi o primeiro estado do País a investir no turismo rural, aproveitando suas potencialidades turísticas.
(Vestibular/Diário Catarinense, 24/11, pág. 1, Mariana Ortiga)
Jovens travestis
Esbarrando no preconceito, na burocracia e no despreparo do atendimento médico, jovens travestis de Salvador tentam levar uma vida normal. “As pessoas aqui vivem fazendo piadinhas”, conta Sendy, de 19 anos, que, se não fosse pela voz, seria impossível dizer que nasceu menino. De acordo com especialistas, ser travesti não tem relação direta com opção sexual, e sim com a identidade sexual. É mais do que usar roupas e acessórios do sexo oposto; é entrar de fato nesse outro universo. É importante lembrar que o travesti se sente à vontade com seu órgão genital, diferentemente dos transexuais. Segundo a sexóloga Martha Freitas, a transexualidade não está ligada simplesmente “àquilo que a criança tem entre as pernas. Se o cérebro for feminino, não há o que o masculinize”. Casos de violência contra travestis e transexuais são comuns, devido à forte discriminação. Uma pesquisa realizada pelo Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos revelou que 60% dos entrevistados já tinham sofrido algum tipo de agressão.
(Caderno Dez!/A Tarde-BA, 10/11, págs. 6-9, Carla Bittencourt)
Nota ANDI - Pela falta de oportunidades na sociedade, muitos travestis acabam buscando sua sobrevivência na prostituição. No Distrito Federal, uma pesquisa feita no início de 2005 pelo grupo homossexual Estruturação com gays, lésbicas, travestis e transexuais, que se prostituíam, apontou que os travestis são bem informados em relação aos métodos de prevenção contra o HIV/Aids. Entretanto, ainda enfrentam o preconceito da sociedade. É o que explica Andrea Stefanie, coordenadora do Núcleo de Transexuais e Transgêneros da ONG. “As pessoas não aceitam. Eu, que sou transexual e coordenadora do Estruturação, sofro com a falta de respeito. Imagine as que estão trabalhando na rua”, afirma. Segundo Andréa, a maioria entende que a prostituição não é a única opção de vida, mas não recebe oportunidades de empregos. “Os patrões de salão de beleza, por exemplo, têm preconceito e as colocam para fora. Mas elas querem fazer cursos, voltar para a escola”, explica. O Estruturação atua com outros parceiros na luta contra o preconceito, como os Ministérios da Saúde e da Educação. Recentemente, o grupo lançou junto com o MEC o projeto Aquarela, que prevê oficinas e entrega de manuais para a comunidade escolar do DF com o objetivo de influenciar a visão a respeito dos gays, lésbicas, transexuais e travestis. “Para mudar a sociedade é preciso fazer campanha e mais campanha. A educação é a chave de tudo”, enfatiza Andrea.
Consciência negra
O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, é importante para provocar reflexão sobre o preconceito contra negros que ainda existe no Brasil. A estagiária Beliziane Fernandes, 18 anos, de Florianópolis, conta que já se sentiu discriminada numa loja por uma vendedora. Em outra ocasião, na porta de uma casa noturna, foi empurrada pelo segurança que chegou a dizer: “Só pode ser negra mesmo”. Ela prestou queixa na policia civil por agressão, racismo e danos morais. Em João Pessoa, a ONG Malungus oferece oficina de moda e beleza para negros. Carine Fiúza, de 16 anos, conta que depois que passou a freqüentar a Malungus muita coisa mudou em sua vida. Além de aprender a valorizar seus traços físicos, também aprendeu lições sobre a história e a cultura dos negros. Ela estuda numa escola particular, onde só há três alunos negros, e diz que sente o preconceito. “Comecei a me vestir melhor, a me achar mais bonita do jeito que sou. Também tenho mais consciência da minha cor. É muito importante que a gente se valorize”, afirma. Daiane Pereira, de 15 anos, conta que sente muita mágoa e revolta quando alguém a discrimina. “Não era para as pessoas se comportarem assim, principalmente no Brasil onde a maioria da população é formada pela mistura de raças. Não era para as pessoas nos diferenciar, somos todos iguais”.
(Patrola/Diário Catarinense, 18/11, pág. 1, Denise Ribeiro; Papo-Cabeça/Correio da Paraíba, 20/11, págs. 1 e 2, Marly Lúcio)
Quilombolas
Com quase 200 anos de existência e 4 mil habitantes, a comunidade quilombola de Conceição das Crioulas, no sertão de Pernambuco, enfrenta acirrados conflitos para manter a posse de seu território. Ao longo de sua história, os quilombolas – como são chamados os habitantes das comunidades negras rurais, descendentes dos quilombos – vêm resistindo às invasões dos brancos, que já detêm as melhores terras da região. Nesse conflito, mais de 20 lideranças locais já foram ameaçadas de morte pelos fazendeiros. Agora, parte da juventude quilombola começou a se envolver com a luta pela retomada da terra. Meninos e meninas reclamam que não têm espaço para cultivar sua própria roça nem para construir suas moradias para se casar ou viver independente da família. Kêka, uma das jovens lideranças, atua no movimento de mulheres rurais da região. Foi uma das fundadoras do primeiro time feminino de futebol e faz parte da equipe responsável pela continuidade do artesanato da comunidade, fonte de renda para diversas famílias. (Viração, novembro, págs. 12-16, Fernanda Sucupira)
Igualdade racial
Mais de 600 estudantes, professores e profissionais de comunicação do Brasil e de nove países da África participaram em São Paulo do Encontro Internacional Brasil-África – Igualdade Racial: um desafio para o mundo, realizado em outubro. O objetivo foi debater a exclusão do negro na mídia. Um dos participantes do evento, o antropólogo congolês Kabenguelê Munanga, 63 anos, vive no Brasil há 28 anos e é professor da Universidade de São Paulo (USP). Segundo ele, o evento é importante para alertar a consciência tanto dos brasileiros como dos africanos sobre o que acontece nos dois continentes. “A imagem que se tem do Brasil na África é a do mito de democracia racial: o único país do mundo onde o negro e o branco convivem sem problema algum. Mas todos vão sair daqui com uma opinião completamente diferente”, avalia. O documento final aprovado no encontro internacional faz algumas recomendações para melhorar a relação entre mídia e igualdade racial, como o incentivo, a realização e a divulgação de pesquisas multidisciplinares e intercontinentais sobre o papel e a responsabilidade da mídia na promoção da igualdade dentro da diversidade racial, étnica e cultural.
(Viração, novembro, págs. 22-24, Felipe Jordan, Iago Hamann, Douglas Lima, Bruno Pereira, Jussane Pavan, Susana Sarmiento, Carol Lima)
Estágio para negros
A Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas da UnB conquistou mais uma vantagem para os alunos negros da universidade ao estabelecer convênio com o Superior Tribunal de Justiça, que oferecerá vagas de estágios para esses estudantes. A princípio, existem 40 vagas para vários cursos, como administração, arquitetura, arquivologia, ciências da computação, comunicação social, direito, engenharia civil, história e psicologia. Lélia Charliane Santos, de 21 anos, do curso de História, é uma das candidatas. “É muito importante esse estágio. Não adianta criar o programa de cotas e largar a gente na universidade”. Esse é o primeiro convênio de estágio a cotistas firmado entre instituições públicas brasileiras. Além dessa parceria, a UnB possui outros projetos, entre eles o Afroatitude, financiado pelo Ministério da Saúde, destinado a pesquisa na área de saúde e população negra, e o projeto Brasil Quilombola, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Social (Seppir), que estuda os meios de inserção dos povos Kalunga no mercado de trabalho. O próximo passo é conseguir bolsas de estudo para cotistas em escolas de língua estrangeira.
(Gabarito/Correio Braziliense, 5/12, pág. 12, Priscilla Borges)
Isolamento indígena
Os aproximadamente 30 índios da aldeia Rio Pequeno, na região de Paraty, no litoral do Rio de Janeiro, vivem praticamente isolados. Kunhá Taquá, 15 anos, filha do cacique da tribo, conta que só foi aprender a língua portuguesa aos 7 anos de idade porque começou a conviver com pessoas brancas; sua família só fala guarani, o idioma oficial da tribo. Ela é a única na tribo que freqüenta uma escola, e é a única indígena entre os alunos. Kunhá conta que foi para a escola somente com 8 anos, depois de insistir muito para conseguir autorização do pai. Sua família sobrevive basicamente da venda de artesanatos no centro da cidade. Ela estuda durante o dia, e à noite vai trabalhar com a família. Sofre preconceitos de seus colegas, que muitas vezes a chamam de “aborígene”, mas diz que não liga, pois sente orgulho de sua raça. Quanto a assuntos relacionados a namoro, o pai é muito rigoroso e tradicional, e não aceita que a filha namore garotos brancos, alegando que as raças não devem ser misturadas.
(Capricho, 11/12, págs. 113 e 114, Kizzy Bortolo; Gabarito/Correio Braziliense, 5/12, pág. 12, Priscilla Borges)
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MÍDIA
Informação de qualidade
O Dia Internacional da Criança na TV, criado há 12 anos pela Unicef, reserva todo dia 12 de dezembro para exibição de uma programação infantil especial em mais de duas mil emissoras de tevê pelo mundo. A campanha do Unicef, que tem parceria com o Conselho Internacional da Academia de Artes e Ciências Televisivas, visa estimular os meios de comunicação a garantir informação de qualidade para crianças e adolescentes. Este ano, a programação infantil da TV Cultura foi de oito horas seguidas e abordou como a intolerância é um dos principais motivos que geram discórdia entre comunidades e guerra entre paises.
(Papo-Cabeça/A crítica-AM, 10/12, pág. BV3, Suelen Reis; Galera/O Estado do Maranhão, 10/12, pág. 6; Gabarito/Correio Braziliense, 5/12, pág. 12, Priscilla Borges)
Produção de jovens na mídia
Jovens de Belo Horizonte desenvolvem junto com a comunidade projetos de comunicação voltados para a produção de programas de rádio e tevê, além de um jornal impresso e matérias para uma agência de notícias. O grupo faz parte da Rede Jovem de Cidadania, coordenada pela Associação Imagem Comunitária, que atua principalmente com a juventude oriunda de vilas e favelas e têm 54 bolsistas. Recentemente, os jovens receberam o prêmio regional Itaú-Unicef de apoio a iniciativas da sociedade civil para o atendimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Dois programas de tevê produzidos pela rede também receberam prêmios em novembro no II Festival de Jovens Realizadores do Mercosul, organizado pela Agência de Desenvolvimento Cultural, Educomunicação, Infoinclusão e Audiovisual (Aldeia) e o Instituto Marlin Azul. De acordo com Egídio Canuto, de 17 anos, que participa do projeto desde o seu início, os bolsistas estão envolvidos em todos os passos da produção de matérias. “No projeto, temos total autonomia e tentamos dar voz a quem não tem, como os artistas de bairros, sempre buscando falar para os jovens”, frisa. Conforme a coordenadora da Rede, Juliana Leonel, os bolsistas têm muito espaço para experimentar linguagens, técnicas e recursos. “Eles não recebem orientação prévia sobre técnicas de televisão, web ou jornalismo. Em cada matéria, pensam a melhor forma de abordar o tema. Assim, experimentam muito e acabam aprendendo coisas novas”.
(D+/Estado de Minas, 1/11, pág 4, Humberto Siqueira)
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PARTICIPAÇÃO
Cidadãos do mundo
Entre os dias 14 e 18 de novembro, estudantes de diversos países se reuniram para discutir assuntos como globalização, discriminação, cultura, saúde, prevenção da violência e conflitos armados. O debate aconteceu durante a 2ª Conferência Mundial de Jovens, realizada em Luziânia-GO e promovida pela ONG Plan, organização mundial que atua em benefício de crianças e adolescentes. Yudelka Ramos, de 17 anos, da República Dominicana, uma das participantes, conta que além dos debates proveitosos e da diversão, a conferência proporcionou conhecer amigos do mundo todo. Para o haitiano Jefferson Balizaire, 15 anos, ser um cidadão global “é poder falar em nome do mundo inteiro”.
(Gabarito/Correio Braziliense-DF, 14/11, pág. 12, Priscilla Borges; Galera/O Estado do Maranhão, 26/11, pág. 8)
Mobilização juvenil
Por meio do projeto educacional Jite (Jovens Interagindo), desenvolvido pela Oficina de Imagens, agência da Rede ANDI Brasil em Minas Gerais, os estudantes da Escola Estadual Lara das Chagas Ferreira, no Aglomerado da Serra, montaram e apresentaram uma peça de teatro com base no texto “Valsa número 6”, de Nelson Rodrigues. Composto por 40 adolescentes de 11 comunidades de Belo Horizonte, Contagem e Vespasiano, o grupo se reúne para pesquisar temas ligados aos direitos dos jovens, participar de oficinas de comunicação e produzir materiais informativos, como programas de rádio, vídeos, fotografias, cartilhas e sites. “Além da mobilização e da participação, também trabalhamos com a comunicação. Fizemos análise de mídia, assistindo e comentando programas de tevê, para despertar o senso crítico desses jovens”, explica o educador Leonardo Zenha, um dos coordenadores do Jite. O projeto é financiado pela Secretaria Nacional de Defesa dos Direitos Humanos e pelo Instituto Credicard. Carla Tatiana de Freitas, de 20 anos, é uma das participantes. “O mais legal é que o projeto não traz nada pronto. São os jovens que atuam, sempre com temas relacionados ao nosso universo e escolhidos por nós mesmos”, destaca a menina.
(Atitude/Hoje em Dia, 6/11, pág. 29, Valeska Silva)
Alunos solidários
Voluntariado é satisfação, renovação e fraternidade; simboliza a transformação do mundo, a construção de uma sociedade mais solidária. Essa é a opinião de alunos que participam de programas de voluntariado sobre o sentido da palavra. Os estudantes do Centro de Ensino Médio Setor Oeste, Marcelo Pires, de 17 anos, e Edivan Lima, de 18, queriam fazer algo para mudar o mundo, e conheceram a Creche Comunitária Anjo da Guarda, em São Sebastião-DF. Eles resolveram ajudar a instituição, que é sustentada por doações, e fizeram um vídeo para incentivar os colegas a doarem alimentos. Outros centros de ensino de Brasília, como os colégios Sigma e Galois, também possuem projetos de apoio a instituições carentes. No Sigma, o projeto chamado Amigos da Vida é composto por 950 estudantes de ensino médio. Todos os anos, esses voluntários adotam uma instituição e dão aulas de reforço, ensinam sobre temas extracurriculares e se divertem com as crianças. No Galois, o projeto Agir ainda é muito recente, mas os alunos que participam se sentem bem ao realizar trabalho de amparo social. Para especialistas no assunto, estimular o voluntariado nos jovens faz com que sua formação seja mais responsável tanto em casa, quanto na escola, no trabalho e na comunidade onde vivem.
(Gabarito/Correio Braziliense, 5/12, págs 5-7, Priscilla Borges)
Política de juventude
Mais de 200 jovens do Piauí participaram em Teresina de um encontro para debater e propor sugestões para o Plano Nacional de Juventude (PNJ), previsto em projeto de lei que está em pauta na Câmara dos Deputados, em Brasília. Os jovens são integrantes de movimentos rurais e urbanos (afrodescentes, índios, com deficiência, gays, lésbicas). Após a discussão em 13 grupos de temas distintos, foram eleitos 13 representantes que vão defender os interesses dos jovens piauienses no Distrito Federal. Entre as metas do PNJ, estão a erradicação em cinco anos do analfabetismo juvenil, a inclusão digital com instalação de computadores nas escolas e universidades, além de garantias de atendimento preventivo na área de saúde e promoção de atividades de lazer e esporte. Segundo o presidente da Associação da Juventude Piauiense, Geraldo Jarques, pelo fato de os jovens não estarem por dentro do assunto políticas públicas, ainda é pequena a participação deles nesse tipo de movimento.
(For Teens/Meio Norte-PI, 1º/12, págs. 6 e 7)
Atuação juvenil
Os jovens brasileiros têm participado cada vez mais das decisões políticas conforme a pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: Participação, realizada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas). O estudo buscou conhecer o potencial participativo da juventude urbana e, por meio de grupos de diálogos, fez com que jovens entre 15 e 24 anos discutissem sobre a situação da juventude brasileira e as alternativas de participação. A maioria dos jovens da pesquisa acredita que os políticos não representam os interesses da população. Os jovens estão descrentes dos políticos, mas não da política. Os maiores interesses citados por eles são a ampliação do ensino médio, a contratação de professores mais qualificados e remunerados, a ampliação do mercado de trabalho e a descentralização de espaços de cultura e lazer. A pesquisa mostrou ainda que os jovens estão mais bem informados, e que utilizam os principais meios de comunicação para isso, entre eles a televisão, as revistas, os jornais e o rádio. Além disso, 28% dos entrevistados fazem parte de algum grupo, seja religioso, esportivo ou artístico. Na opinião deles, os principais problemas do Brasil são a violência, o desemprego, a educação, a desigualdade social, a saúde e o preconceito. Eles afirmam que o País precisa abrir mais espaço para a participação juvenil nas decisões políticas. Com a pesquisa, constatou-se que o jovem brasileiro não é alienado, e está preocupado com o futuro do País.
(Megazine/O Globo, 29/11, pág 13, Bruno Porto; Galera/Correio de Sergipe, 13/12, pág. 3; Caderno Dez!/A Tarde-BA, 27/12, págs. 8 e 9, Regina Bochicchio)
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NOVAS TECNOLOGIAS
Podcasts
A mais nova revolução de áudio, que aos poucos vem conquistando os internautas, chama-se podcast, uma espécie de Áudio Blog que está democratizando a criação e veiculação do conteúdo em áudio. O termo surgiu da junção do iPod, popular tocador de mídia, com o broadcast, transmissão por radio ou tevê. Os assuntos divulgados são diversos: músicas, notícias em geral, temas políticos e culturais. A novidade é que o programa pode ser atualizado automaticamente. Em vez de o ouvinte sintonizar em apenas uma estação do seu gosto, ele pode sair à procura de diversos conteúdos disponibilizados nos programas de cada podcast, podendo ouvi-los quando e onde quiser, transferindo o conteúdo para CDs, MP3 player, em micros de bolso ou celulares. De acordo com o produtor do GuiLeite sobre o mundo Macintosh e do musical Musicast, Gui Leite, a vantagem dos podcasts é o aprofundamento em determinados assuntos de audiência restrita nas rádios comerciais, permitindo maior interação com os ouvintes. Entretanto, o jornalista Alexandre Sena, que já utiliza o software, não acha que os podcasts ameaçam as rádios tradicionais, mas influenciarão no seu formato. No Brasil, esse novo software está sendo descoberto agora, mas já existem programações criadas por famosas revistas nos EUA, como a Newsweek, programas educativos da Nasa e resumos de séries de tevê, como Lost e The Simpsons. Um problema relevante encontrado pelos podcasts é a questão dos direitos autorais das obras reproduzidas.
(MTV, dezembro, págs. 78-81, Marcelo Nóbrega)
Graduação online
A primeira turma de graduação à distância no País, que cursou ensino superior pela internet, terá festa de formatura sediada em Brasília. Muita gente não acredita que esse método de graduação online funcione, alegando que não há um aprendizado efetivo. Mas os formandos garantem que é totalmente possível aprender, e ainda destacam diversos benefícios em relação às aulas tradicionais, pelo fato de facilitar a vida do aluno, já que não precisam ficar esperando pelo professor. Na página da internet, os estudantes encontram materiais didáticos, referências bibliográficas, espaço para debater com seus colegas e para tirar dúvidas com os professores. A AIEC (Associação Internacional de Educação Continuada) possui 38 mestres e 100 tutores para o atendimento dos alunos. A turma, que irá se formar em administração, é composta por 318 alunos de diferentes estados brasileiros, dentre eles, Pará, Minas Gerais, Bahia e São Paulo. O curso de administração é ainda o único proporcionado pela instituição, que já possui 3,5 mil estudantes matriculados e tem a previsão de abrir mais 2 mil vagas em 2006.
(Gabarito/Correio Braziliense, 5/12, pág 8, Priscilla Borges)
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FAMÍLIA
Morar sozinho
Muitos jovens enfrentam o desafio de morar sozinho. Claudiomar Rolim, 21, mudou-se do Maranhão para Brasília, logo que passou no vestibular, para cursar relações internacionais. Depois, foi morar no exterior para aprender inglês. Segundo a psicóloga Érika Freitas, não existe uma idade mínima para sair de casa. A opção é feita de acordo com a vontade e as condições de cada um. Entretanto, o jovem precisa ter seu próprio sustento para viver sem a dependência dos pais. Morar sozinho e continuar sendo sustentado por eles é uma independência ilusória. Para que a independência seja efetiva, ela deve ser social e financeira. Além disso, morar sozinho é um desafio diário, especialmente para os jovens, pois é necessário adaptar-se a horários, ter responsabilidades de pagar contas, lavar roupa, fazer compras, além de controlar sentimentos como a saudade dos pais. Com os pontos favoráveis e contrários, é uma experiência em que o jovem poderá crescer como ser humano e como profissional.
(Galera/O Estado do Maranhão, 9/12, pág 8, Júnior Balby)
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SAÚDE
Doença de vestibulando
A menos de um mês das provas dos principais vestibulares, jovens contam como é a “doença” que apelidaram de “novembrite” e que deixa todos à beira de um ataque de nervos. Enquanto não entra no curso de jornalismo, no de relações públicas ou no de dança, Raquel Alioto, de 18 anos, de São Paulo, estuda pelos cotovelos, tem crises de choro, insônia e, se dorme, sonha com números. Como conseqüência, sente ainda cansaço físico e queda de resistência. A “novembrite” é um termo usado por muitos jovens para designar as alterações de humor por que passam durante o período pré-vestibular. A estudante Fernanda Jordão, também de 18 anos, reclama de sua atual situação. “Não consigo mais estudar, me dá sono e choro muito”. Em Vitória, o coordenador de um curso pré-vestibular Rubens Domingos afirma que nesta época alguns alunos acabam recorrendo a acompanhamento psicológico e médico para lidar com a ansiedade. Larissa Dell´Antônio, 17 anos, foi receitada com calmantes e energéticos. “Também vou fazer exame de sangue porque estou com suspeita de anemia”. Segundo ela, a tensão acontece por causa da pressão. “A gente passa a vida se perguntando o que vai ser quando crescer. A resposta é agora”.
(Folhateen/Folha de S. Paulo, 7/11, págs. 6-8, Lucrecia Zappi; Tribuna Teen/A Tribuna-ES, 17/11, pág. 5, Roze Frizzera)
Crise emocional
Segundo pesquisa inédita, divulgada em outubro pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 36,9% dos estudantes passaram por crise emocional durante o curso universitário. Problemas como dificuldades financeiras, adaptação ao novo ambiente e de relacionamento em geral são algumas das causas das crises que afetam o rendimento acadêmico dos alunos e, de acordo com os pesquisadores, aumentam a evasão do campus. O estudo foi realizado em 2004, com 33 mil universitários de 38 instituições federais. A região Sul registrou o maior índice: 43,6% dos entrevistados apresentaram problemas emocionais no início do curso. No Sudeste, 42,1%. O professor da Universidade de Brasília e coordenador do estudo, Marcelo Tavares, acredita que o resultado da pesquisa pode beneficiar os estudantes. “Não adianta formar um bom profissional, se ele está acabado emocionalmente. A partir desse estudo, vamos elaborar políticas de apoio aos alunos”, explica. Ana Maria Rodrigues, da Divisão de Assistência ao Estudante da Universidade Federal do Rio de Janeiro, conta que o contato com um mundo inteiramente novo pode ser o desencadeador das crises. “O impacto de sair do ensino médio e encarar a liberdade no campus; o futuro profissional e ter que morar sozinho, em alguns casos, perturbam os estudantes”.
(Megazine/O Globo-RJ, 8/11, págs. 8-11, Ediane Merola)
Aparência x saúde
A busca desesperada por peso e medidas ideais pode desencadear os chamados transtornos alimentares, como a anorexia. “Desenvolvi a doença quando fiz um curso de modelo, aos 15 anos. Tinha que conquistar um corpo que se encaixasse nos padrões de beleza das passarelas com regras pesadas de alimentação e me acostumei com isso”, conta uma jovem de 18 anos. De acordo com o psicólogo Marco Antonio de Tommaso, que trabalha com modelos das agências Elite e L’Equipe em São Paulo, a mídia pressiona muito as adolescentes. “Esse padrão de beleza é cruel. As adolescentes querem ficar iguais às pessoas que aparecem na televisão e forçam a barra. É preciso entender que nem todos podem se encaixar nesses estereótipos”, explica. Entre os sintomas da doença estão dores de cabeça, cólicas, enjôo, tontura e desmaios. Ainda assim, pessoas que passam por isso se sentem cada vez mais gordas e costumam trocar dicas na internet sobre como passar dias sem comer. São os chamados sites pró-Ana (em referência à anorexia), cujo número chega a ser maior que os de saúde.
(Papo-Cabeça/A Crítica-AM, 5/11, pág. 3, Suelen Reis)
Cinema e cigarro
Quase 40% dos adolescentes norte-americanos que experimentaram cigarros o fizeram porque viram nos filmes, afirma um estudo publicado na revista Pediatrics, da Academia Americana de Pediatria. Depois de levar em conta outros fatores que influenciam o hábito de fumar, a pesquisa descobriu que o adolescente que assiste a filmes em que os atores fumam tem 2,6 mais chances de experimentar o tabaco do que aqueles menos expostos. “A exposição ao cigarro em filmes é tão ampla que seu impacto nessa faixa etária é mais forte que o de amigos ou pais fumantes”, explica o professor James Sargent.
(For Teens/Meio Norte-PI, 10/11, pág.7, Reuters)
Drogas: contar ou não contar?
A Atrevida selecionou quatro cartas de adolescentes, todas meninas, que pedem orientação sobre o que fazer quando descobrem que a amiga, o irmão ou o namorado está usando droga. As leitoras têm dúvidas se devem contar ou não para algum adulto o que está acontecendo. Para responder as perguntas, a revista procurou a psicoterapeuta Rita de Cássia Calegari, do Hospital São Camilo, em São Paulo. Segundo a especialista, é comum na adolescência meninos e meninas testarem seus limites e experimentarem alguma droga, por curiosidade, e nem por isso vão se tornar dependentes. No entanto, se o uso está comprometendo o rendimento escolar ou tornando a pessoa mais agressiva, Rita afirma que os adolescentes em questão precisam de alguma orientação de adultos, justamente por estarem vivenciando um período de descobertas, e nesse caso vale a pena contar para os pais. Em relação a namorar alguém que habitualmente usa drogas, a psicoterapeuta orienta as adolescentes a avaliarem se vale a pena um relacionamento em que as drogas estão presentes e em que o usuário não se importa em batalhar contra a dependência.
(Atrevida, novembro, págs. 74-76, Rose Mercatelli)
Diferenças de vírus
O retrovírus HTLV (linfotrópico para células T humanas) é muitas vezes confundido com o HIV pela semelhança de nomes, mas os dois são totalmente distintos entre si. Das centenas de retrovírus existentes desse tipo, os únicos que afetam o ser humano são o HTLV 1 e 2. O HTLV 1 pode ser transmitido por relação sexual, da mãe para o feto, pela amamentação ou pelo contato com o sangue. A maioria das pessoas infectadas não sabe que possui o vírus e ele só se manifesta em 3% a 5% dos casos, provocando doenças. As manifestações nos portadores são geralmente doença neurológica, com distúrbios da sensibilidade nos membros inferiores, dificuldade para controlar a urina e para andar. Um grupo pequeno pode desenvolver leucemia e crianças correm o risco de ter infecções de pele. O uso de camisinha é indispensável nas relações sexuais, e as mães não podem amamentar. Os epidemiologistas constataram que ele é mais antigo que o HIV. O teste para detectar HTLV é bastante parecido com o de HIV.
(Caderno Dez!/ A Tarde, 13/12, pág. 3, Margaret Fialho)
Nota ANDI - A revista aborda um assunto difícil – o uso de drogas entre adolescentes –, mas sobre o qual é necessário falar. Com tantas informações aterrorizantes sendo veiculadas sobre drogas, é de se esperar que os adolescentes não saibam o que fazer quando convivem com alguém que consome alguma dessas substâncias. Por isso, é importante que as publicações de Mídia Jovem cumpram o papel de orientar seus leitores, contextualizando o tema e contando com a ajuda de um especialista, como fez a Atrevida. Outro ponto que merece destaque no trabalho da revista é que a psicoterapeuta não adota um tom moralista ao responder as leitoras.
Campanha contra Aids
O Unicef e o Ministério da Saúde lançaram em novembro a campanha Unidos vamos vencer a Aids!, que faz parte de uma iniciativa global que tem como objetivo a prevenção e o tratamento de crianças e adolescentes que vivem com Aids. Segundo dados do Unicef, mais de seis mil adolescentes e jovens de 15 a 24 anos contraem o HIV diariamente em todo o mundo. No Brasil, no primeiro semestre de 2004, houve a notificação de contágio de 1.093 jovens. De acordo com a diretora do Unicef Ann Veneman, uma parte muito pequena dos recursos destinados à luta contra a Aids é destinada à infância. A campanha do Unicef, programada para os próximos cinco anos, visa estimular a criação de programas estatais para prevenir a transmissão mãe-filho, fornecer tratamento pediátrico e dar apoio às crianças afetadas pela Aids. Com tantas informações sobre o vírus, os jovens devem usar camisinha na hora da transa. O teste de HIV também deve ser feito porque quanto antes descobrir o contágio, melhor para se cuidar e barrar a transmissão. Muitos jovens têm se disponibilizado a trabalhar voluntariamente para conscientizar a população a se precaver da contaminação. O Grupo Pela Vidda, no Rio de Janeiro, conta com 80 voluntários, em sua maioria jovens universitários, nem todos soropositivos, que realizam palestras e divulgam formas de prevenção e de tratamento. “A Aids não é apenas um problema de saúde, mas também cultural, por causa do preconceito”, diz a estudante de psicologia Paula Dobbin Caruso, da faculdade Estácio, no Rio de Janeiro.
(Galera/Correio de Sergipe, 1/11 e 22/11, pág. 3; Capricho, 27/11, págs. 92-94; Megazine/O Globo-RJ, 29/11, págs. 10-12, Ediane Merola)
Viração publica edição especial sobre AIDS
A revista Viração, referente a dezembro de 2005 e janeiro de 2006, fez uma série de reportagens no seu especial sobre HIV/Aids. O tema ainda causa polêmica entre a juventude, principalmente pela falta de esclarecimentos. O Radicais Livres apresenta como foi essa cobertura:
Jovem de atitude
Além de informação é preciso atitude do jovem para se prevenir contra as doenças sexualmente transmissíveis. A revista Viração perguntou aos jovens como eles se previnem e se informam sobre a Aids. Todos os entrevistados reconheceram a importância do uso do preservativo na relação sexual, e a escola e a mídia foram citadas como fontes de informação. Diego Pereira, de 17 anos, presta atenção nas palestras sobre sexo e prevenção de seu colégio e Patrícia Pires, de 18 anos, afirma que os professores, sobretudo os de biologia, são prestativos no esclarecimento de dúvidas. “Na minha escola, os professores conversam bastante com a gente sobre Aids e outras doenças”. Juliana Lino, de 20 anos, e Eric Lopes, de 17 anos, lêem jornais, revistas e assistem programas sobre o tema. O estudante Gilmar Nascimento, de 17 anos, além de usar camisinha, trabalha para conscientizar a população de sua cidade sobre a relevância do sexo seguro, por meio de seu grupo de teatro.
(pág. 6)
Testemunho
O jovem João (nome fictício), de 22 anos, descobriu ser soropositivo pouco depois de se mudar para a Inglaterra. Sem amigos em Londres, o rapaz enfrentou o problema sozinho. “Foi uma sensação horrível. Não tinha ninguém para conversar. Tive poucas relações sexuais sem proteção e foram suficientes para contrair o vírus”. Há um ano e meio na capital inglesa, ele tenta levar uma vida como se o vírus não interferisse em nenhum momento, porém confessa que muita coisa mudou depois da notícia. “Faço tudo com mais responsabilidade”. João garante que tem um cuidado extra com sua saúde para evitar que a doença se desenvolva. “Já fiquei muito mal psicologicamente. Mas agora tenho outros princípios na minha vida e encaro isso de frente”.
(pág 9, Mariana Cacau)
Saúde pública X comércio internacional
“Minha vida vale mais do que uma patente!”. A mensagem estampada em faixas e cartazes marcou o protesto de ONGs que atuam no combate à Aids e que lutam, há anos, pela quebra dos direitos intelectuais sobre os medicamentos que compõem o coquetel. As entidades enfatizam que o governo federal jamais quebrou as patentes dos remédios, apenas forçou a queda de preços com ameaça de licenciamento compulsório. Uma medida paliativa, que não solucionou o problema. O Brasil, como membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), é assinante do acordo Trips (Propriedade Intelectual Relacionado ao Comércio), que foi uma condição imposta por países ricos aos interessados em participar da OMC. Cícero Gontijo, da Fundação Getúlio Vargas, afirma que o Brasil, por oito anos, se opôs à discussão da propriedade intelectual, mas, pressionado por outros países, assinou o documento. O especialista enfatiza que o Trips é injusto porque assegura monopólio àqueles que detêm o conhecimento para a fabricação de produtos essenciais, o que atinge diretamente o tratamento da Aids. Os países em desenvolvimento que assinaram o Trips têm prazo de 10 anos para aplicá-lo. A Índia e a Tailândia, por exemplo, desenvolveram remédios a preços baixos e exportaram ao Brasil durante esse período. Com a adequação desses países às regras das Trips, os gastos com o tratamento podem aumentar em cinco vezes.
(pág 11, Evanize Sidow)
Aconselhamento gratuito
Ainda pouco conhecido do público, os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) prestam serviços gratuitos à população de todas as idades, como teste de HIV e sífilis, consultas, orientação e encaminhamento para o tratamento de doenças sexualmente transmissíveis. Os centros também investem na formação de agentes de prevenção voluntários para trabalhar na comunidade. Anderson Nunes, 18, e Francislene de Souza, 19, coordenam o plantão Jovem do CTA de Santo Amaro. Eles fazem palestras de conscientização em escolas, cinemas e shoppings a jovens entre 11 a 24 anos. “A Aids está crescendo muito e acho legal exercer meu papel de cidadão”, diz Anderson. Apesar de todos os esforços, o projeto esbarra em alguns problemas, como a falta de preservativos e pouca divulgação do serviço prestado pelos CTAs. Na tentativa de contornar a situação, a vereadora paulistana Soninha (PT) elaborou um projeto de lei chamado Vamos Combinar, voltado à prevenção da gravidez indesejada e de DST/Aids junto aos jovens. “É preciso que haja formação e informação dos jovens”, diz Soninha. Ela ressalta a responsabilidade do Poder Público na capacitação de profissionais para lidar com os adolescentes. Anderson vê sua atuação com otimismo, mas enfatiza que é preciso ampliar o número de CTAs no Brasil. Segundo assessoria do Ministério da Saúde, há 303 CTAs espalhados pelo País e a ampliação desses serviços depende de políticas estaduais e municipais.
(págs. 12 e 13, Gabrile Mitani e Mariana Romão)
Educação sexual
A educação sexual está sendo abordada de igual para igual em algumas escolas públicas de São Paulo. Jovens voluntários ministram oficinas de orientação sexual e esclarecem dúvidas de outros jovens. Questões delicadas sobre sexo e sentimentos são tratadas de forma lúdica, por meio de jogos, dança e teatro. Segundo Maria Aparecida Jurado, coordenadora pedagógica de uma escola atendida pelo projeto, essa iniciativa é essencial. “Os professores não se sentem preparados e têm receio de tratar esses assuntos. Sempre dizem ‘no meu tempo...’” . A falta de diálogo em casa atraiu a atenção de estudantes para participar da oficina, como a adolescente de 15 anos Aline Moraes. O projeto foi idealizado pela ONG Espaço Arterial de Educação e Cultura. Outra ação bem sucedida que utiliza o mesmo princípio é o Prevenção Também se Ensina, da Fundação para Desenvolvimento da Educação. A iniciativa debate preconceitos e valores com os professores e investe na formação de agentes multiplicadores. O trabalho já diminuiu o índice de gravidez entre as adolescentes da escola. O projeto também pretende ampliar o conhecimento à comunidade e à família.
(págs. 14 e 15, Carol Lemos e Susana Sarmiento)
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ENTREVISTA RADICAL
Jovem com HIV fala de preconceito e da importância de educar para prevenir
Douglas Silva (nome fictício), 27 anos, é soropositivo. Aos 18 anos, descobriu que era portador do vírus HIV, que provavelmente contraiu aos 16. Aposentado, atua na ONG Grupo Pela Vidda, em Niterói, onde participa do grupo jovem Viva Voz e fala para escolas e empresas sobre Aids/HIV. Também é voluntário do Projeto Rede Buddy, que presta assistência domiciliar a pessoas que vivem com Aids e a suas famílias. O Pela Vidda – Pela Valorização, Integração e Dignidade do Doente de Aids foi fundado em 1989 pelo escritor Herbert Daniel. Hoje, possui sede no Rio de Janeiro, em Niterói, em São Paulo e em outras capitais brasileiras. O Grupo promove reuniões de convivência e apoio, serviços especializados para atender portadores, além de publicações sobre prevenção, saúde, formas de tratamento, direitos e cidadania. Falar sobre o trabalho de entidades que têm foco na prevenção e tratamento de HIV/Aids, como é o caso do Grupo Pela Vidda, é uma pauta que pode contribuir para diminuir o preconceito contra jovens com HIV e também para estimular a participação desse público em ações voluntárias.
Qual foi a reação dos seus amigos quando souberam que você é soropositivo?
Moro sozinho no Rio de Janeiro. Meus amigos me deram apoio. Já a minha família, que é de outro estado, nunca se aproximou muito. Na última internação, foram três meses sem receber visita deles. A gente quase não se fala. Depois que eu me recuperei, consegui restabelecer minha casa e minhas amizades. Quando meus amigos têm dúvidas, eles me perguntam. No dia-a-dia surgem situações que despertam curiosidade sobre riscos de transmissão. Como faço parte do Grupo Pela Vidda, eu sei quais são as formas de infecção e explico.
Como você lida com o preconceito?
Eu sofri muito preconceito, inclusive da minha família. Várias pessoas se afastaram. No hospital em que eu estava não pude ficar porque ninguém tocava numa pessoa “aidética”. Eu fiquei muito mal. Passei meses na terapia, e agora estou melhor com o grupo de convivência. Lembro uma vez em que eu ia sair com uma pessoa que tinha me convidado pra dormir com ela. Quando eu falei que era soropositivo, a pessoa simplesmente desapareceu. Foi aí que eu aprendi que tenho que saber pra quem falar e com quem me relacionar. Há muita hipocrisia, muito preconceito.
Você acha que os jovens têm menos preconceito que os mais velhos?
Não, é o mesmo preconceito. Sempre rolam conversas de pessoas entre 17 e 25 anos com
23Radicais Livres – Novembro/Dezembro de 2005ANDI - Agência de Notícias dos Direitos da Infânciaas seguintes falas: “Você fica perto?”, “Não tem medo não?”, “Ele pode espirrar perto de você...”. É horrível ouvir isso. Meus amigos acham legal o jeito como eu trabalho aqui, dando palestra, coordenando o grupo. Dizem que sentem orgulho de serem meus amigos. Mas as pessoas são preconceituosas. Um conhecido meu não pôde usar o banheiro na empresa em que trabalha porque ele freqüentava a minha casa. A sociedade em geral não mudou tanto, e o que ocorre é o preconceito velado. Se eu trabalhar numa empresa e disser que sou portador do HIV, o que eles fazem? “Não, a gente não vai te demitir, mas tem uma vaga no almoxarifado que é a mais indicada pra você”. E te colocam lá no final, de preferência sem contato com ninguém, para que os outros não saibam que você tem HIV. É isso que ocorre, por isso continuamos lutando. Existem leis, mas elas não são cumpridas.
Como você conheceu a ONG Grupo Pela Vidda? O que mudou na sua vida ao fazer parte do grupo?
Quando saí da internação, achava que não podia fazer nada e passei três meses trancafiado em casa. Eu só saía pra ir à consulta. Numa delas um psicólogo perguntou o que eu fazia. Disse que passava o dia todo vendo tevê, e ele me orientou a participar de algum grupo de convivência. Eu nem sabia o que era. Quando cheguei em casa liguei pra várias ONG’s. Gostei do atendimento do Pela Vidda, mas ainda tinha medo de ir pra rua. Depois de um mês e meio resolvi ir pra uma reunião de recepção. O grupo explicou que não precisava ficar trancado 24 horas dentro de casa, nem ter tanto medo. Eu só precisava ter alguns cuidados. Ainda assim, foram mais dois meses até eu vir pra reunião do grupo de adolescentes. Foi aí que eu me surpreendi. Eu imaginava que ia chegar nesse lugar e todo mundo ia estar chorando. Mas ninguém chora, todo mundo ri, todo mundo brinca. Eu era muito fechado, não falava nada. A minha coordenadora começou a conversar comigo. Comecei a sair novamente, falar com as pessoas, vir às reuniões sempre. Hoje eles são a minha família. Sou aposentado e ainda não tenho condições de voltar a trabalhar, por isso aqui eu me sinto pela primeira vez vivendo. Hoje participo de dois projetos do grupo.
O que você faz nesses projetos?
No Viva Voz, fazemos palestras em empresas e escolas sobre DST, HIV e sobre sexo seguro, além de demonstrações de como usar os preservativos feminino e masculino. Também tratamos sobre discriminação e preconceito. Mesmo as pessoas mais esclarecidas ainda são muito preconceituosas. A gente tenta quebrar esse estigma, todos nós estamos em fase de aprendizado. Na Rede Buddy, fazemos um acompanhamento biopsicossocial do portador de HIV. Vamos até a residência, auxiliamos com o medicamento, acompanhamos nas consultas, conversamos com a família. É um trabalho de esclarecimento e de estímulo à valorização da sua capacidade psicológica, que fica muito debilitada naquele momento. O Buddy se transforma num verdadeiro amigo.
Qual a sua opinião sobre a divulgação da doença na mídia e das formas de prevenção e tratamento?
Não é muito abrangente, porque a mídia acaba se pautando pelas campanhas de saúde pública que são realizadas por temporada: no carnaval e no dia 1º de dezembro, principalmente. Deveria ser um trabalho mais intensivo. O principal é unir educação e saúde. As escolas deveriam tratar o tema camisinha abertamente. Adolescentes estão se infectando com 11, 12 anos de idade. Eles sabem que precisam usar camisinha, mas acham tudo muito fictício, que só poderia acontecer com 20 anos de idade. Aqui nos bailes funks, as garotas já vão sem calcinha só pra transar. Deveria ser feita uma campanha de mídia mais centrada em educação, falar sobre como usar camisinha, pois existem muitas dúvidas quando ao uso. Outra dica seria montar oficinas de sexo seguro.
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ANTENADOS
Série Não é o que parece debate questões polêmicas sob diversos pontos de vista
Veiculado pelo Canal Futura, o programa estimula jovens e adultos a refletirem sobre assuntos de relevância social relacionados ao cotidiano
A série Não é o que parece, produzida pelo Canal Futura, foi criada com o objetivo de introduzir e estimular o debate de temas de grande relevância social. A intenção também é quebrar alguns preconceitos comuns sobre questões que fazem parte da realidade da população – oferecendo diversos pontos de vista sobre assuntos como racismo, exclusão social, condições de trabalho, entre outros.
Para proporcionar mais realismo à série, o trabalho conta com depoimentos de pessoas de várias regiões do País que já vivenciaram situações relacionadas aos temas abordados. Direcionados ao público em geral, a produção representa também um recurso alternativo para informar e educar jovens e adolescentes em casa ou na escola.
Exibida toda sexta-feira às 22h30, com reprise aos sábados, às 20h30, a iniciativa partiu do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que buscou parceria com o Canal. De acordo com o site do CFP, em seção dedicada à série, a finalidade do projeto é “ampliar e fortalecer a divulgação da psicologia, não apenas aos profissionais desse segmento, mas ao público em geral, mostrando sua contribuição na saúde mental e na conquista da cidadania”.
A série, coordenada pela jornalista Cristiane Ballerini, do núcleo de Criação do Canal Futura, já possui duas edições, ambas com oito programas com cerca de 30 minutos cada um. Em 18 de novembro de 2005 foi exibido o programa Preto no Branco, que discutiu o racismo, em função do Dia Nacional da Consciência Negra (20 de novembro); em dezembro, a série tratou do isolamento social no programa De dentro pra fora.
Elementos subjetivos
Um dos méritos da série é, num primeiro momento, analisar as opiniões das pessoas comuns, pautadas em questões subjetivas, como sentimentos, inferências e percepções construídas com informações de seu dia-a-dia. A partir daí, o vídeo se propõe a mostrar ao espectador que existem outras dimensões que não estão evidentes, mas são importantes para o entendimento de muitos fatos e temas do cotidiano.
“Preto no Branco”
O primeiro ponto abordado, em 18 de novembro, foi a suposta democracia racial, que ainda é um mito bastante comum no Brasil. Entre as várias evidências que contradizem esta visão idealizada, estão a que a maioria dos desempregados é negra e que o mercado de trabalho é ocupado estrita e maciçamente por brancos que têm maiores possibilidades de ingressar em universidades.
Mesmo com a Constituição garantindo total igualdade de condições aos cidadãos, “será que todos os brasileiros se sentem iguais?”, questionava o narrador no vídeo.
Entre os temas levantados, foram discutidos o preconceito praticado por policiais que, de acordo com a matéria, suspeitam mais de negros do que de brancos; o problema do baixo número de negros em escolas privadas e no ensino superior; e o preconceito sofrido no comércio e entre os vendedores, que freqüentemente discriminam consumidores negros, por achar que eles têm menos condições de comprar mercadorias.
Foi apresentado ainda um exemplo pouco conhecido sobre o preconceito dentro do mundo da moda. Uma estilista, por exemplo, foi ameaçada de perder o cargo por exigir que somente modelos negros desfilassem sua coleção, sendo acusada de racista.
O vídeo poderia ter acrescentado o debate sobre cotas nas universidades e no próprio mercado da moda. Ou então, ter contextualizado melhor a abordagem, ouvindo outros lados na luta contra o preconceito, como especialistas que são referenciais do movimento negro.
“De dentro para fora”
Em dezembro o tema foi o isolamento social que, ao contrário do que se pode pensar, está além das prisões e das formas comuns de restrição de liberdade. O vídeo parte da idéia de que nenhum ser humano pode viver sozinho e lista várias formas de exclusão: detenções, hospícios, presídios ou até mesmo clubes.
Entre as formas de isolamento, o sistema carcerário foi o mais abordado. A partir de um contexto histórico, o programa mostrou que a prisão surgiu como uma alternativa para os chamados suplícios, formas de castigo corporal, por ter um caráter mais “humanitário”.
Entretanto, há uma nova mentalidade para esse tipo de punição, já que as cadeias se tornaram “faculdades do crime”. Em decorrência dos maus tratos, as pessoas que lá entram, em vez de saírem melhores, muitas vezes acabam mais violentas, com sentimento de revolta e desejo de vingança. “Não é possível ensinar alguém a viver em liberdade, ou seja, no meio social, tirando a liberdade do sujeito”, afirma uma das personagens.
Com uma citação vaga sobre as penas alternativas, o programa deixou de promover discussões e dar exemplos concretos sobre o assunto. Poderia, também, ter abordado a disparidade entre os tipos de pena aplicados aos chamados “ladrões de galinha” e aos políticos ou funcionários públicos envolvidos em crimes de corrupção, e sobre a sensação de impunidade nesse último caso.
Debate mais aprofundado
Outro conteúdo que merecia maior profundidade é a discussão sobre medidas socioeducativas, cumpridas por jovens em conflito com a lei. O programa mostrou apenas a detenção, revelando a verdadeira face da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), que precisa mudar sua estrutura para oferecer, realmente, o bem-estar e a re-inserção de adolescentes. A atual lógica da Febem, ao contrário de sua função social, reproduz um ciclo de violência e crimes. Como o próprio programa explicou, o adulto que rouba hoje tem grandes chances de já ter sido o adolescente com passagem pela Febem ou a criança que batia carteira nas ruas de alguma grande cidade.
Apesar de não serem direcionados especificamente para a juventude, os dois programas inseriram jovens e adolescentes, mesmo que eventualmente, na discussão dos temas. Merece destaque esse olhar sobre o público dessa faixa etária, uma vez que os jovens, quando estão em frente à tevê, assistem basicamente à programação adulta. Os dados são da Pesquisa MídiaQ de 2005, divulgada pelo Midiativa (Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes), que neste último levantamento centrou seu foco no público de 12 a 17 anos – aquele que conta com menos opções na telinha. Conforme o Midiativa, embora os jovens vejam programas dirigidos aos adultos, eles estão em busca de conteúdos que tenham mais a ver com os seus interesses.
A Voz dos Jovens
A ANDI convidou estudantes para assistirem aos dois programas da série Não é o que parece, do Canal Futura. Os programas foram escolhidos levando-se em conta o caráter social e educativo da produção e a presença de temas fundamentais para o desenvolvimento social e humano de meninos e meninas. Os sete jovens convida-dos atuam em projetos de participação juvenil.
“Alguns momentos são chatos e meio dispersos porque é só uma pessoa narrando. Mas depende muito da leitura de cada um. Um se comove com a trilha sonora, o outro com o depoimento. Os dois programas são muito parecidos. Mas o sobre prisão é mais forte. Ele atingiu mais o objetivo e serve para quem sofre preconceito e para sensibilizar as outras pessoas. Tenho amigos que tiveram que visitar asilos para cumprir pena e isso mudou a vida deles.”
(Danuse Queiroz, de 20 anos, estudante de Pedagogia)
“Faltou mostrar no primeiro programa (sobre racismo) algumas figuras, desenhos para visualizar melhor a idéia. Sugiro também uns personagens para narrar. Embora a linguagem seja acessível, tem que estar disposto a assistir. A minha irmã, por exemplo, não gostaria do filme.”
(Ionara Talita, 19 anos, estudante de jornalismo, moradora de Planaltina, a cidade mais antiga de Brasília, faz estágio na Fundação Athos Bulcão)
“Achei bem legal o segundo programa porque fala sobre diversos tipos de isolamento, não só da prisão. Eu me identifiquei muito. Esses programas servem muito para a minha vida.”
(Guilherme Pereira, 16 anos, estudante do Ensino Médio, morador da cidade satélite de Paranoá)
“Mesmo não sendo feitos necessariamente para jovens, os vídeos servem muito pra nós. Se fosse focado mais na juventude, poderia contextualizar o racismo que se sofre dentro das escolas ou nos grupos.”
(Tiago Araújo, 16 anos, estudante de Ensino Médio, morador da Cidade Ocidental)
“Os adolescentes têm destaque nos dois filmes. Com relação ao racismo, o tema ficou um pouco clichê. Só focaram no dano. Deveriam ter falado mais do outro lado. Poucas pessoas conhecem a história dos negros. Os filmes são referências positivas, mas estão um pouco distantes da realidade do jovem. Uma dica seria aproveitar essas referências dos jovens, dos cantores, rappers, grafiteiros.”
(Alisson das Neves, 20 anos, estudante de Samambaia-DF, curte hip hop)
“Seria legal mostrar o segundo vídeo para as pessoas que acham que não são preconceituosas. Quando se fala de exclusão, a gente lembra que existe o jovem excluído, aquele que não segue a moda e tem outro tipo de atitude. Poderiam começar a fazer filmes mostrando mais as pessoas que tiveram sucesso nessa luta, tanto no preconceito como depois da exclusão.”
(Silvia Guerreiro, 18 anos, coordenadora adjunta da Caravana Jovem em Brasília)
“A linguagem é bem popular. Você vê que aquilo realmente acontece. O sistema carcerário brasileiro é desumano, não tem estrutura, nada. O Brasil investe hoje mais nas prisões do que em educação.”
(Júlio Osano, 18 anos, estudante de jornalismo, morador da cidade Ocidental do Goiás, divisa com o DF)
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POLÍTICAS PÚBLICAS EM FOCO
Matérias sobre Aids citam jovens sem aprofundar a questão
Relatório divulgado pelo Unaids ganha destaque na grande mídia; já a abordagem de HIV e jovens é deixada de lado
O crescimento recorde, em 2005, do número da população mundial com HIV (que chega a 40,3 milhões de pessoas) foi notícia em todos os grandes jornais do País, após o lançamento do relatório anual sobre a situação da epidemia de Aids pelo Programa das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids), no final de novembro. Um dado que chamou a atenção da mídia é o fato que dentre os brasileiros da faixa dos 15 aos 24 anos que iniciaram sua vida sexual antes dos 15, apenas 62% sabem como se dissemina o vírus. Essa informação seria suficiente para disparar o sinal de alerta da imprensa para a necessidade de cobrar providências das autoridades públicas que deveriam concentrar esforços na educação sexual dessa faixa da população.
No entanto, os veículos de comunicação brasileiros ainda estão pouco atentos à necessidade de fazer matérias específicas que abordem jovens e HIV. Em novembro, um número reduzido de textos trataram dessa questão como foco principal. Depois de fazer o dever de casa e publicar matéria sobre o lançamento do relatório da Unaids no dia 22, o Correio Braziliense traz ao leitor no dia 30 uma reportagem com o título “Doença da desinformação”, em que apresenta uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) segundo a qual estudantes do Ensino Médio do Distrito Federal não recebem noções sobre os riscos de contrair Aids – apesar de os jovens de 10 a 19 anos ocuparem o segundo lugar no ranking dos portadores de DSTs.
Além de ouvir a professora autora da pesquisa, o jornal cobra um posicionamento do poder público em entrevista à Secretaria de Saúde do DF. É bom ressaltar, porém, que não figurou como fonte nenhum estudante do Ensino Médio ou qualquer outro jovem que atua em projeto social de prevenção ao HIV/Aids. Ou seja, o ponto de vista dos jovens quase não aparece na grande mídia, mesmo em assuntos que lhes dizem respeito. Um dos poucos jornais que deu voz a esse público foi O Liberal, de Belém, ao divulgar o curta-metragem intitulado “Por que eu?”, que focaliza a luta contra a Aids e foi produzido por uma estudante de medicina da Universidade Federal do Pará.
Adolescentes na mira
Embora a entrevista com o médico infectologista Vicente Amato Neto, professor de Medicina da USP, publicada em 28 de novembro na Gazeta do Povo (Curitiba), tenha como título “Adolescentes estão visados pelo HIV”, esse ponto não é explorado ao longo das perguntas. É o especialista quem afirma que os adolescentes e jovens de até 20 anos estão muito vulneráveis à doença por entrarem nos relacionamentos sexuais “de forma muito voluntariosa”. Mesmo com esse gancho, que até vira título, o jornal não aprofunda a abordagem.
A grande mídia, na verdade, se deparou com várias informações que se referem a jovens e HIV e que poderiam ter virado pauta mais aprofundada. Um exemplo é a campanha Unidos com crianças e adolescentes. Unidos vamos vencer a Aids!, lançada também em novembro pelo Unicef e Ministério da Saúde, que apresentou à imprensa várias possibilidades de ampliação da cobertura sobre Aids com foco na adolescência e juventude.
De abrangência mundial, a campanha do Unicef tem uma linha de ação específica para o Brasil que visa ampliar o acesso das gestantes e dos adolescentes ao diagnóstico do HIV. Conforme dados do órgão das Nações Unidas, nos últimos 15 anos, cerca de 15 milhões de adolescentes ficaram órfãos no mundo por causa da Aids. Segundo o diretor do Programa de DST/Aids do Ministério da Saúde, Pedro Chequer, no País não faltam remédios nem kits de testes. “O problema é a falta de acesso”, disse, em matéria publicada no dia 23 de novembro no Correio Braziliense. Nesse mesmo texto, o jornal dá destaque à seguinte fala de Jarbas Barbosa, secretário nacional de Vigilância Sanitária: “Adolescentes e jovens estão em situação de risco duplamente, tanto por violência sexual explícita quanto por falta de informação”.
No entanto, esses sinais de que há muitas questões a serem aprofundadas sobre jovens e HIV acabam não recebendo o tratamento jornalístico merecido – a mídia se atém a reproduzir falas e números com citações rápidas e sem contextualização.
Para finalizar, o jornal O Tempo, de Araxá-MG, numa notinha quase imperceptível publicada em 28 de novembro, retoma um termo preconceituoso que felizmente já está em desuso pela grande maioria dos jornais, grafando o problemático título: “Rússia faz 1º concurso de beleza entre jovens aidéticos”.
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EXPEDIENTE
VEÍCULOS MONITORADOS
Cadernos e Páginas de jornais:
Atitude (Hoje em Dia/MG) - página
Caderno Dez! (A Tarde - Salvador/BA) - tablóide
D+ (Estado de Minas) - tablóide
Fanzine (A Gazeta - Vitória/ES) - página
Folhateen (Folha de S. Paulo) - tablóide
Fovest (Folha de S.Paulo) - tablóide
For Teens (Meio Norte - Teresina/PI) - tablóide
Gabarito (Correio Braziliense) - tablóide
Galera (O Estado do Maranhão) - tablóide
Galera (Correio de Sergipe)
Garagem (Correio Braziliense) - página
Gente Jovem (Cruzeiro do Sul - Sorocaba/SP) -
Megazine (O Globo - Rio de Janeiro/RJ) - tablóide
Papo-Cabeça (A Crítica/AM) - página
Papo-Cabeça (Correio da Paraíba) - página
Patrola (Diário Catarinense) - tablóide
Patrola (Zero Hora/RS) - tablóide
Pop (O Popular - Goiânia/GO) - standard
Teen (O Liberal - Americana/SP) - standard
TribunaTeen (A Tribuna - Vitória/ES) - tablóide
Vestibular (Zero Hora - Porto Alegre/ RS) - tablóide
Vestibular (Diário Catarinense) - tablóide
Vestibular (O Estado de S. Paulo) - tablóide
Zine (A Gazeta - Cuiabá/MT) - tablóide
Revistas
Viração (Projeto Viração) - mensal
Atrevida (Editora Símbolo) - mensal
Capricho (Editora Abril) - quinzenal
Todateen (Editora Alto Astral) - mensal
MTV (Editora ZM3) - mensal
Programa de TV (um por mês)
série Não é o que parece - Canal Futura
Radicais Livres é uma publicação mensal da Coordenação de Mídia Jovem da ANDI
Presidente do Conselho da ANDI: Cenise Monte Vicente
Secretário Executivo: Veet Vivarta
Secretária Executiva Adjunta: Ely Harasawa
Núcleo de Mídia Jovem
Edição: Carina Paccola (carina@andi.org.br)
Redação: Fabiane Schmidt, Leyberson Lelis, Maria Silvia Bembom, Rafael Soares e Rossana Magalhães (jovens@andi.org.br)
Foto de capa: Mila Petrillo
Projeto gráfico: Apoena Pinheiro
Diagramação: Virgínia Soares
Imagens: Stock.XCHNG, the leading FREE stock photo site
Realização: ANDI
Em parceria com: Instituto Votorantim
Apoio: Unicef
É autorizada a reprodução total ou parcial dessa publicação desde que consultada previamente a ANDI.
O que Samambaia tem?
A população da cidade possui características especiais: a maioria nasceu no DF e tem entre 39 e 46 anos. A renda média familiar é de oito salários mínimos e são sete mil mulheres a mais que homens.
Ao todo, 160 indústrias se instalaram na cidade nos últimos dez anos. Destaque para o frigorífico, que exporta frango e derivados, principalmente para o Oriente Médio. A participação é expressiva na economia do DF. A empresa foi a maior responsável pelo aumento de mais de 100% nas nossas exportações. Foram US$ 94 milhões só no primeiro semestre deste ano.
A empresa chegou em Samambaia em 2004 e investiu R$ 150 milhões. Hoje emprega cerca de 2,6 mil pessoas. A maioria mora na cidade. E este é o diferencial. Mão-de-obra farta e próxima ao local de trabalho. O segredo do bom negócio é compartilhado por outros empresários.
Em uma fábrica de móveis, a maioria dos trabalhadores vive pela vizinhança. A empresa, que fatura R$ 7 milhões por ano, já emprega 100 pessoas e montou uma cooperativa habitacional para os empregados. “Hoje o vale-transporte já onera as empresas também. Então, nós damos dar preferência para o pessoal de Samambaia. Nós gostaríamos que todos fossem daqui. Infelizmente, ainda temos 30% de funcionários de outras cidades. Mas nosso objetivo é realmente atingir 100% de funcionários daqui”, afirma o dono da empresa.
O funcionário Adriano Alves mora em uma das 25 casas construídas em mutirão e vai para o trabalho de bicicleta. “Eu agora gasto dez minutos de casa para o serviço e do serviço para casa. Estou estudando à noite, porque não tinha possibilidade de estudar, morando longe. Não tinha tempo. Então, graças a Deus minha vida mudou bastante”, conta.
E a oferta de emprego perto de casa aos poucos muda o desenho de Samambaia. Com cerca de 150 mil habitantes, deve aumentar nos próximos anos. É a cidade em que a Terracap oferece o maior numero de lotes. Empreendimentos imobiliários destinados à construção de condomínios residências são a grande atração.
A administração já aprovou, este ano, 364 projetos. Com a promessa de investimentos em torno de R$ 260 milhões. Expectativa de mais qualidade de vida para quem mora na cidade. “Vale a pena morar e trabalhar em Samambaia”, completa Adriano Alves.
Renata Gonzaga / Emerson Soares
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Noite de crimes em Samambaia
Paulo Alberto Moura e Heberton Sabóia foram encontrados mortos. Em outro caso, um homem foi preso ao se passar por policial.
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